Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Assassinato do cartunista

"Cabeça" de Cadu piorou após conhecer Daime, diz família de suspeito

Linha da defesa será de que estudante virou problemático ao ir à igreja. Membros da Céu de Maria haviam dito que chá tem caráter religioso

Carlos Eduardo Nunes está preso na sede da Polícia Federal em Foz do Iguaçu pelo assassinato do cartunista Glauco | Christian Rizzi / Agência de Notícias Gazeta do Povo
Carlos Eduardo Nunes está preso na sede da Polícia Federal em Foz do Iguaçu pelo assassinato do cartunista Glauco (Foto: Christian Rizzi / Agência de Notícias Gazeta do Povo)
Carlos Eduardo Sundfeld Nunes está preso em Foz do Iguaçu, acusado da morte do cartunista Glauco e de ter baleado um policial federal |

1 de 3

Carlos Eduardo Sundfeld Nunes está preso em Foz do Iguaçu, acusado da morte do cartunista Glauco e de ter baleado um policial federal

Sundfeld planejou a fuga e disse que viu Deus depois de tomar o Santo Daime |

2 de 3

Sundfeld planejou a fuga e disse que viu Deus depois de tomar o Santo Daime

O assassino do cartunista Glauco parecia não se importar com o que fez e até sorria para repórteres e policiais logo que foi preso |

3 de 3

O assassino do cartunista Glauco parecia não se importar com o que fez e até sorria para repórteres e policiais logo que foi preso

Parentes de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, de 24 anos, suspeito de ter matado a tiros Glauco Villas Boas, de 53 anos, e o filho dele, Raoni, de 25 anos, afirmam que o estudante universitário piorou seu estado de saúde mental após frequentar a Igreja Céu de Maria, fundada pelo cartunista em Osasco, na Grande São Paulo, que é adepta do Santo Daime. Os advogados de Cadu deverão adotar essa versão como uma das linhas da defesa do estudante: a de que ele teve agravado seu quadro de esquizofrenia após ter tido contato com a igreja e o Daime.

De acordo com o que familiares do suspeito disseram ao G1 nesta terça-feira (16), sob a condição de anonimato, Cadu fazia tratamento psicológico, psiquiátrico e antidrogas, mas teve esses problemas agravados após conhecer a Céu de Maria e consumir o Santo Daime, que era ministrado nos cultos.

Ainda, segundo eles, a 'cabeça' de Cadu não estava boa e os membros da igreja deveriam ter proibido o estudante de ingerir o Daime. A bebida é uma droga alucinógena feita a partir do chá de Ayahuasca. Segundo testemunhas do crime, ocorrido no dia 12, Cadu estava armado e aparentava estar drogado quando atirou em Glauco e em Raoni. O suspeito foi preso em Foz do Iguaçu, no Paraná, onde, segundo a Polícia Federal, confessou os assassinatos.

Os advogados do estudante conversaram com os mesmos parentes que falaram com a reportagem. Agora, os defensores do jovem estão compilando e organizando fotos, cartas e documentos de Cadu durante o período em que ele estava no Daime.

Outras duas linhas de defesa também estão sendo analisadas por seus advogados.

"A defesa vai verificar a condição mental dele [Cadu], e entre as causas a serem verificadas de um eventual comprometimento dele estão: o histórico familiar, uso de drogas e de ele ter frequentado o Santo Daime", afirmou o advogado Gustavo Badaró, na manhã desta terça ao G1. Ele falou com a reportagem momentos antes de embarcar para Foz do Iguaçu, onde irá se encontrar com seu cliente.

Para Badaró, é preciso saber se os antecedentes familiares, o uso de drogas ou do Daime podem ter tido alguma repercussão em agravar ou gerar um estado psicótico ou de problemas psicológicos.

"Em termos bem gerais é isso aí. A defesa tem o interesse em verificar o estado psíquico do Cadu, até porque há um histórico de problemas psiquiátricos na família, mais especificamente com a mãe dele. E de um tempo para cá, esses momentos em que ele apresentava sinais de anormalidade passaram a ser mais frequentes, segundo os parentes. De dois anos para cá, ele começou a frequentar o Daime. E isso coincide com o tempo em que o estado dele piorou."

Apesar de Cadu ter confessado o crime diante das câmeras de televisão no Paraná, o advogado dele sustenta que não pode afirmar ainda que seu cliente é culpado pelo crime ou o autor dos disparos. "Não sei se ele atirou. A defesa vai nesta terça conversar com ele, saber sua versão. Quero ouvir a versão dele antes", afirmou Badaró, que também deve pedir um exame de sanidade mental de Cadu.

No velório de Glauco, membros da igreja afirmaram que o uso do Daime nos cultos não deveria ser encarado simplesmente como uma droga, mas sim como um elemento religioso importante na Céu de Maria. E que ele não traria problemas à saúde se fosse administrado corretamente.

Prisão

Preso em Foz do Iguaçu, Cadu está desde a madrugada de segunda (15) na carceragem da sede da PF. Após a prisão, ele estava muito agitado, mas, segundo policiais, o jovem se acalmou e passou a noite de segunda mais tranquilo.

O interrogatório desta terça, com a presença do delegado paulista, irá se concentrar na morte do cartunista e de seu filho. O suspeito já prestou esclarecimentos á PF nesta segunda. Com duas páginas, o depoimento concentra-se mais no que ocorreu após as mortes em Osasco. Apesar disso, ele confessa o assassinato de Glauco e Raoni, segundo a PF. "Ele confessou que foi responsável pelas mortes e somente isso. Não entramos muito na seara do que aconteceu em São Paulo", afirmou o delegado-chefe da PF em Foz do Iguaçu, José Alberto Iegas.

Fuga

Carlos Eduardo está preso desde o fim da noite de domingo (14), quando tentou cruzar a fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Na fuga em um carro que foi roubado na Vila Sônia, em São Paulo, ele resistiu à abordagem da Polícia Rodoviária Federal. Uma hora depois, atirou em um policial federal que tentou pará-lo na Ponte da Amizade.

Caso a polícia paulista resolva pedir a remoção do preso para Osasco, o pedido deve ser apresentado pelo delegado ao juiz do Fórum de Osasco, que, por sua vez, remeterá o pedido ao juiz federal da 2ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu, que pode autorizar ou não a remoção.

Segundo o delegado Iegas, Cadu vai responder na Justiça Federal pelos crimes de tentativa de homicídio, receptação de veículo roubado e porte ilegal de arma. O estudante já tinha contra si um mandado de prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça paulista pela morte de Glauco e Raoni. Até a noite de segunda-feira (15), a Justiça Federal do Paraná não havia recebido o pedido de remoção do suspeito.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.