Cadeias de duas delegacias de Curitiba e região metropolitana acenderam, nesta semana, um sinal de alerta: presos que estão detidos nas carceragens dos respectivos distritos apresentaram sintomas de doenças contagiosas. A comissão de direitos humanos, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), aponta que há risco de epidemias dentro das unidades. "Insalubridade é um termo ameno para descrever o que encontramos nestas cadeias. E o risco não se restringe a essas duas cadeias. A situação é caótica em quase todas as delegacias da capital e região metropolitana", definiu a vice-presidente da comissão, Isabel Kugler Mendes.
O caso mais grave ocorre na delegacia de São José dos Pinhais, onde três presos provisórios estão com sintomas de tuberculose. As suspeitas foram levantadas no último fim de semana, mas, segundo a comissão da OAB-PR, até esta sexta-feira (7), os detentos permaneciam na carceragem, sem qualquer isolamento. "Vários presos estão com febre continuamente. Três deles estão escarrando sangue", observou Isabel.
Na segunda-feira (3), a comissão acionou a Vigilância Sanitária do município, solicitando providências urgentes, como a remoção dos presos da carceragem. Por meio de sua assessoria de imprensa, a prefeitura de São José dos Pinhais disse que os alertas foram repassados ao Programa Municipal de Controle de Tuberculose. Somente na segunda-feira (10), integrantes do projeto devem realizar uma ação preventiva na cadeia. A prefeitura confirmou que os presos sob suspeita de contaminação permanecem nas celas da delegacia.
Caxumba
Outra carceragem que corre risco é a do 12º Distrito Policial (DP), no bairro Santa Felicidade, em Curitiba. Cinco casos de caxumba foram confirmados nesta semana, entre presos da unidade. Nesta ocasião, no entanto, as autoridades agiram rapidamente: os detentos foram transferidos para o Complexo Médico Penal. A Vigilância Sanitária da capital deve realizar, na próxima semana, medidas de higiene nas celas e vacinar os presos com doses da tríplice viral. "Neste caso, a resposta foi rápida e, ao menos, os doentes foram isolados", disse Isabel.
O temor da comissão é de que, com o aquecimento das temperaturas, surtos de doenças contagiosas comecem a ocorrer em cadeias de outras delegacias da capital e região metropolitana. De acordo com a comissão, a tônica é a mesma no setor prisional dos distritos policiais: celas superlotadas e sem ventilação, falta de condições sanitárias, excesso de umidade e superaquecimento.
Segundo a comissão da OAB-PR, a delegacia de São José dos Pinhais tem a pior carceragem da região. "Só perde para a de Paranaguá, no Litoral", diz Isabel. Fotos tiradas pela comissão mostram que o teto das celas está infestado de baratas. Na carceragem, 146 homens dividem espaço projetado para 36 pessoas. "Para dormir, é preciso abrir a porta das celas e os presos dormem no chão do corredor, fazendo revezamento", contou a vice-presidente da comissão. O relatório da comissão aponta que não há colchonetes para todos os presos. Como há vazamentos, muitos dormem encharcados.
Na semana passada, em entrevista à Gazeta do Povo, o delegado de São José dos Pinhais, Gil Rocha Tesseroli classificou a carceragem como distrito como "uma bomba relógio". A cadeia chegou a ficar interditada no papel, mas há três meses, a Procuradoria Geral do Estado conseguiu reverter o embargo na Justiça. "Mas, na prática, nunca paramos de receber gente. Eu não posso mandar os presos embora. É um jogo de gato e rato", resumiu o delegado. Neste ano, a delegacia já registrou uma fuga, em que detentos escaparam por um túnel. Outras nove fugas foram evitadas por policiais do distrito.



