
O câncer é a principal causa de mortes não violentas em crianças maiores de 5 anos no Brasil. No Sul, 9,5% das mortes da população até 18 anos aconteceram devido à doença. Nas causas de morte da população brasileira adulta, no entanto, as neoplasias (cânceres) ficam em segundo lugar, atrás das doenças do aparelho circulatório.
A previsão do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é que 2008 fechará com 351.720 novos casos de câncer no Brasil, com exceção dos tumores de pele não melanoma. Destes, 9.890 casos (3,8%) afetarão crianças e adolescentes de até 18 anos.
A boa notícia, segundo o Inca, é que perspectiva da criança com câncer mudou de eixo passando de 85% de mortalidade para 85% de chances de cura. Ontem, no Dia Nacional de Combate ao Câncer, o Inca e a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica lançaram uma publicação inédita sobre incidência e mortalidade da doença. Segundo a publicação, o tratamento da criança com câncer é um dos maiores exemplos de sucesso dos últimos 30 anos. Um dos motivos da melhoria é o diagnóstico precoce.
Não se sabe ao certo quais fatores causam o câncer infanto-juvenil e como preveni-lo. Enquanto no adulto o surgimento do câncer pode estar associado a fatores ambientais como o tabagismo, nos tumores da infância e adolescência não existe tal associação.
Segundo a oncologista Luciane Valdez, do Hospital Pequeno Príncipe, o câncer nessa faixa etária pode ocorrer por predisposições genéticas e a aquisição de hábitos menos saudáveis, mas nada foi comprovado até agora. Luciane aponta que a principal prevenção é o acompanhamento rotineiro de um pediatra.
Crescimento
Segundo estudos internacionais, disponíveis na publicação lançada ontem, que as taxas de incidência apresentaram discreto aumento nas últimas décadas. Nos Estados Unidos, de 1975 a 1999, a variação percentual anual foi de 0,4 a 1%.
A publicação mostra que a política de combate ao câncer infanto-juvenil no país está no caminho certo. Segundo o estudo, o perfil da incidência do câncer em crianças e adolescentes no Brasil é semelhante ao observado nos países em desenvolvimento e o cenário pode ser atribuído às políticas de prevenção de outras doenças infantis.
O médico Vicente Odone Filho, responsável pela oncologia do Instituto do Tratamento de Câncer Infantil, de São Paulo, explica que, se antes uma criança morria prematuramente de diarréia, hoje doenças como esta foram diminuindo e dando margem para outras. "À medida que a criança vai sobrevivendo, ela está sujeita a desenvolver o câncer", diz o oncologista. O médico credita o crescimento à melhoria dos indicadores sociais e econômicos.
"Estamos reduzindo o peso das doenças infecciosas e é preciso melhorar cada vez mais o diagnóstico (do câncer) na ponta, com o treinamento dos pediatras e médicos de saúde da família", afirma o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
Para Luciane, os casos aumentam por causa da piora dos hábitos de vida adotados atualmente, como sedentarismo e alimentação, e da melhoria do diagnóstico.




