O desespero causado pela dor e a demora em ser atendido pelo sistema público de saúde levou um aposentado de Cascavel, no Oeste do Paraná, a tomar uma decisão inusitada. Orlando Vaz, 84 anos, usou um estilete para fazer uma incisão na parte inferior esquerda do abdômen, onde ele tinha uma hérnia. Vaz acreditava que com isso estaria realizando uma "autocirurgia" e resolvendo o problema.
Em parte, a mutilação deu certo porque ao fazer a incisão uma cápsula de pus se rompeu e a secreção vazou, aliviando a dor. O caso ocorreu em junho do ano passado, mas só agora foi tornado público pelo aposentado, após ele ser convocado para uma consulta no Centro Regional de Especialidades (CRE) do município, onde deveria dar início aos encaminhamentos dos procedimentos cirúrgicos.
Vaz conta que foi operado de hérnia há seis anos, mas no início do ano passado o problema voltou. Ele passou por um médico no dia 24 de abril de 2013, quando foi encaminhado para uma nova consulta, desta vez com um cirurgião. Cansado de esperar e sofrendo com as dores, ele tomou a decisão de cortar o abdômen. "Tomei um banho e passei a faquinha de baixo para cima, aí vazou. Estava preto aquilo, era maior do que um ovo de galinha, eu não aguentava a dor. Graças a Deus aliviou bem", relata.
O aposentado diz que agora não precisa mais da cirurgia. Ele deveria ter feito a nova consulta, desta vez com um cirurgião, nesta terça-feira (12), mas não compareceu. Apesar de ainda vazar secreção do local e sentir dores ao caminhar, Vaz diz que não procurará atendimento médico. "Agora eu estou bom".
Nelsa Amábile Vaz, 74 anos, mulher do aposentado, disse que somente após ele ter feito a "autocirurgia" é que o marido comunicou a ela. "Eu não sabia que ele tinha cortado, depois que ele veio e falou. Eu até o chamei de louco", conta. Foi ela quem se encarregou de medicar o marido.
O diretor da 10.ª Regional de Saúde em Cascavel, Miroslau Bailak, disse que o paciente não era de responsabilidade do estado. "Esse paciente iria consultar ontem [terça-feira, 12], não sei se ele consultou. Aí se o médico achar que é uma hérnia tem de fazer uma solicitação de internação hospitalar e só então ele entra na gestão da 10.ª Regional para a gente pedir a cirurgia. Portanto, nós não tínhamos conhecimento desse paciente, ele estava ainda no âmbito do município de Cascavel", afirmou.
Bailak disse ainda que o que ele fez não foi uma autocirurgia, porque o procedimento é complexo. "O que ele fez foi uma autoagressão, que pode complicar ainda mais o problema", alerta. FILA DE ESPERA
Bailak não soube informar o número de pessoas que estão na fila de espera para cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Disse apenas que no ano passado 7 mil procedimentos cirúrgicos foram realizados.
A esposa de Vaz relatou que em fevereiro do ano passado, ela entrou para a fila de espera para um tratamento com um dermatologista, já que é portadora de câncer de pele. Sem resposta até agora, Nelsa juntou dinheiro e fez uma consulta particular.
O caso está sendo acompanhado pela CPI da Saúde, uma comissão formada por vereadores para acompanhar os problemas no setor em Cascavel.
-
Órgão do TSE criado para monitorar redes sociais deu suporte a decisões para derrubar perfis
-
Relatório americano divulga censura e escancara caso do Brasil ao mundo
-
Mais de 400 atingidos: entenda a dimensão do relatório com as decisões sigilosas de Moraes
-
Lula afaga o MST e agro reage no Congresso; ouça o podcast
STF estabalece regras para cadastro sobre condenados por crimes sexuais contra crianças
Órgão do TSE criado para monitorar redes sociais deu suporte a decisões para derrubar perfis
Proposta do Código Civil chega nesta quarta ao Senado trazendo riscos sociais e jurídicos
Método de aborto que CFM baniu é usado em corredor da morte e eutanásia de animais
Deixe sua opinião