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Ao se entrar na casa pela primeira vez, as regras de gentileza pedem uma ligeira apresentação. Cidadão Honorário de Curitiba nascido em Nova Trento (SC), dizem com ironia que eu sou o "verdadeiro milagre" de Santa Paulina. Híbrido de jornalista com desenhista, sou praticamente autodidata. Ou um "ignorante por conta própria" – no dizer do poeta Mário Quintana. Dos meus mestres no aprendizado a distância, entre escritores e cartunistas, alguns conheci pessoalmente em Curitiba.

Em 1980, o intelectual italiano Umberto Eco esteve em Curitiba e poucos o conheceram pessoalmente. Dos primeiros teóricos das histórias em quadrinhos, o autor de O Nome da Rosa deu uma palestra sobre semiótica e depois foi jantar no restaurante Varsóvia a convite de Sérgio Mercer, presidente da Fundação Cultural de Curitiba. Apreciador da comida polonesa, Umberto Eco acabou manchando a gravata vermelha com o molho do chef Janus Stoklowski. Mercer tirou sua gravata de seda italiana e passou para o escritor, que lhe retribuiu com a que estava usando. A gravata vermelha deve estar até hoje num relicário, em Tibagi.

Na mesma época, a Fundação Cultural de Curitiba promovia a Feira Nacional de Humor (Fenah ah ah) e o presidente Sérgio Mercer me incumbiu de apresentar a cidade ao cartunista Henfil. "Vamos de carro?" "Vamos a pé. Uma cidade só se conhece andando!", respondeu a celebridade do Pasquim.

Suei frio na travessia entre o Teatro Guaíra, a Boca Maldita e o Largo da Ordem. Afinal, Henfil era hemofílico. Se ele tropeçasse numa dessas calçadas sanguinárias do Setor Histórico, o que seria de mim? Como se estivesse conduzindo o escritor e cartunista feito algodão entre os cristais, sãos e salvos terminamos o dia no Bar do Alemão.

O escritor Ruy Castro estava hospedado no Hotel Iguaçu quando saímos para conhecer a noite curitibana. "Por onde prefere começar?" "Primeiro vamos jantar, depois vamos conhecer gente bonita!" Do restaurante Bologna fomos ao antigo Bar Kapelle, reduto da esquerda festiva. Ruy Castro passou em revista aquele corredor lotado de intelectuais e torceu o nariz: "Eu queria conhecer gente bonita!"

Pegamos um táxi e disparamos para a Rainha Careca, bar chique do Batel, reduto da oligarquia paranaense. "Aqui, sim, só tem gente bonita!" Ruy Castro mediu a casa com os olhos de Humphrey Bogart e se perdeu entre as mesas da direita festiva.

A convite dos irmãos Paulo e Chico Caruso, fui assistir no Museu Oscar Niemeyer (MON) ao show da banda Conjunto Nacional, com o escritor Luis Fernando Verissimo no saxofone. No fim da apresentação, Chico me chamou ao camarim, e lá ficamos bebericando enquanto Verissimo guardava cuidadosamente o seu saxofone na caixa. "Mestre, deixa que eu carrego o seu saxofone!", solicitei.

Depois da fila de autógrafos da saída, Paulo e Chico Caruso saíram com Lúcia e Luis Fernando Verissimo para jantar no restaurante Durski. Com o carregador de saxofone ao lado. Mais ou menos cinco anos depois, me passam às mãos o espaço do mestre. Volte logo, Verissimo! Carregar o saxofone não é nada. Difícil é manter o show aqui no alto da página.

O colunista Luis Fernando Verissimo excepcionalmente não publicará coluna nesta quinta-feira.

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