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Saúde mental

Carteado para deixar a memória bem afiada

Pesquisadores norte-americanos investigam como os jogos de carta ajudam a manter o raciocínio de idosos e atrasam os sinais de demência

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Saiba mais sobre a memória |

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Saiba mais sobre a memória

Laguna Woods, Califórnia - As senhoras na sala de carteado estão jogando bridge e, em sua idade, o jogo não é um hobby. As cartas são uma forma de vida, um conforto diário e um desafio, a última fogueira comunitária antes que tudo se torne escuro. "É o que nos mantém indo", diz Georgia Scott, de 99 anos. "É onde estão nossos amigos mais próximos."

Nos últimos anos, cientistas ficaram muito interessados no que poderia ser chamado de clube da super memória – formado por uma em cada 200 pessoas que passaram dos 90 sem traços de demência.

Esse é um grupo grande o bastante para oferecer um vislumbre ao cérebro lúcido no alcance mais longo da vida humana, e para ajudar pesquisadores a descobrir o que, exatamente, é essencial para se preservar a agudeza mental até o fim.

"Achamos, por exemplo, que é muito importante usar seu cérebro, continuar desafiando sua mente. Todavia, todas as atividades mentais podem não ser iguais. Estamos vendo algumas evidências de que um componente social pode ser crucial", afirma a médica Claudia Kawas, neurologista da Universidade da Califórnia.

Laguna Woods, uma grande comunidade de aposentados, ao sul de Los Angeles, com mais de 20 mil membros, está no centro do maior estudo mundial sobre acuidade mental e salutar em idosos. Iniciado por pesquisadores da University of Southern Califórnia, em 1981, e conhecido como Estudo 90-mais (do inglês 90-plus), ele já incluiu mais de 14 mil pessoas com mais de 65 anos, e mais de mil acima dos 90.

Estudos como esse podem levar anos para gerar frutos. Os resultados deste, em especial, estão começando a mudar a forma de como os cientistas entendem o cérebro envelhecido. As evidências sugerem que pessoas que passam longas partes de seus dias, três horas ou mais, envolvidos em atividades mentais, como carteados, podem sofrer menos riscos de desenvolver demência. Pesquisadores estão tentando separar causa de efeito: seriam eles afiados por estarem ativos, ou ativos por serem afiados?

Ao mesmo tempo, descobertas deste e de outros estudos continuados, sobre os muito velhos, trouxeram dicas de que alguns genes podem ajudar pessoas a se manterem lúcidas mesmo com cérebros que mostram todas as destruições biológicas do mal de Alzheimer.

Em estudos sobre os mais idosos, pesquisadores descobriram pistas para essa boa sorte da saúde. Por exemplo, o grupo de Claudia descobriu que algumas pessoas, que são lúcidas até o fim de uma vida muito longa, possuem cérebros aparentemente livres da doença de Alzheimer. Num estudo divulgado em abril, os pesquisadores relatam que muitos deles trazem um variante genético chamado APOE2, capaz de ajudá-los a manter a mente afiada.

Nir Barzilai, da Escola de Medicina Albert Einstein, descobriu que judeus Asquenazes (provenientes da Europa Central e Oriental) centenários possuem três vezes mais chances de trazer um gene chamado CETP, aparentemente capaz de aumentar o tamanho e a quantidade de partículas do chamado colesterol bom, do que seus pares que sucumbiram à demência.

"Não sabemos como isso poderia ser protetor, mas está fortemente correlacionado às boas funções cognitivas na idade avançada", explica Barzilai. "Pelo menos isso nos dá um alvo para futuros tratamentos."

Os muito velhos que vivem junto a seus pares sabem disso intimamente. Eles desenvolveram sua própria sabedoria, seu próprio laboratório. Os idosos diagnosticam um ao outro, baseados em cuidadosas observações. Eles aprenderam a distinguir entre os diferentes tipos de perda de memória, aqueles gerenciáveis e aqueles ameaçadores.

Em Laguna Woods, muitos residentes fazem cálculos extremamente delicados em um lugar – a mesa de bridge.

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