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Casarões históricos de Londrina estão sob ameaça

Sem lei municipal de preservação plenamente implantada, parte do patrimônio construído pelos pioneiros permanece em risco

Seu Tino, de 84 anos, vive no casarão histórico com as duas irmãs e busca preservar o patrimônio da família | Gilberto Abelha/ Jornal de Londrina
Seu Tino, de 84 anos, vive no casarão histórico com as duas irmãs e busca preservar o patrimônio da família (Foto: Gilberto Abelha/ Jornal de Londrina)
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Pouco mais de 80 anos depois da chegada dos primeiros desbravadores a Lon­drina, poucas residências construídas pelos pioneiros continuam em pé na cidade. O patrimônio tombado pelo estado é pequeno: são quatro edificações, apenas uma originalmente residencial. O restante dos imóveis de interesse histórico segue à mercê do assédio das construtoras e, na maioria das vezes, acaba cedendo lugar a prédios.

A cada demolição, como a recente do luxuoso palacete dos Dequêch, construído em 1937, na Avenida Duque de Caxias, fica mais clara a necessidade de implantação do Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural, elaborado há dez anos, mas emperrado na estrutura deficiente da secretaria municipal de Cultura.

Embora o Conselho Mu­nicipal de Preservação do Patrimônio Cultural tenha sido criado com a lei municipal de preservação, em 2011, a listagem de bens de interesse e o tombamento pelo município ainda esbarram na falta de pessoal qualificado para fazer o trabalho. Na diretoria de patrimônio da secretaria de Cultura de Londrina, três pastas contêm todo o patrimônio catalogado por uma equipe de colaboradores e estagiários, desde 2002. "É um trabalho que tem começo, mas não tem fim. À medida que você vai registrando, tem que ir atualizando, porque, eventualmente, no caso da arquitetura, tem bens que são descaracterizados ou demolidos", explica a diretora de patrimônio de Londrina, Vanda de Moraes.

O inventário é apenas o reconhecimento por parte da prefeitura de que um imóvel tem interesse histórico, o que não impede a demolição. "Não conseguimos fazer o registro de algumas edificações e, quando vemos, já demoliram", lamenta Vanda. Exata­mente por isso, é impossível saber o que a cidade perdeu ao longo de décadas de demolições. No inventário da secretaria, inclusive, algumas casas já demolidas ainda são contabilizadas entre obras arquitetônicas a serem preservadas. Outras, como a casa dos Dequêch, que foi ao chão recentemente, nunca fizeram parte do levantamento.

Vanda de Moraes defende que a implantação do Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural compreende outras etapas. Algumas delas, segundo a diretora, já estão em andamento, como a divulgação da importância dos bens culturais e a construção de projetos de conscientização popular. "A perda de patrimônio é algo natural em qualquer lugar do mundo. As pessoas precisam ter em mente que a obrigação de preservá-lo não é apenas do poder público. A proteção também inclui orientar o proprietário."

Tombamento

Casarão que recebeu JK é patrimônio histórico estadual

Tombado pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural do Paraná (Cepha) em 2011, a pedido da família proprietária, o casarão dos Garcia Cid foi inaugurado em 1947 e hoje abriga uma agência bancária. Expoente da arquitetura eclética, ao mesmo tempo clássica e moderna, o palacete recebeu importantes autoridades, como os governadores Moisés Lupion e Paulo Pimentel. Até mesmo o presidente Juscelino Kubitschek teria pernoitado lá, durante passagem pela cidade. Antes do casarão, outras três edificações londrinenses foram tombados pelo patrimônio histórico estadual: a Praça Rocha Pombo e o Museu de Arte de Londrina, em 1974, e o Teatro Ouro Verde, em 1998.

Para a diretora de patrimônio da secretaria de Cultura, Vanda de Moraes, o tombamento é apenas o reconhecimento oficial de que um bem é importante. "Mas não é isso que torna uma coisa patrimônio, ela já é patrimônio em função de uma técnica construtiva, da estética ou da questão histórica", define.

Primeiro sobrado foi construído em 1937

Uma das casas remanescentes inclusas no livro de Yamaki é o sobrado dos Victorelli, construído por Theodoro Victorelli, em 1937, na Rua Fernando de Noronha. Atualmente fechado, o imóvel segue nas mãos da família, que o aluga para estabelecimentos comerciais. "Morei muito tempo naquela casa, mas agora não dá mais, é uma área muito comercial. A UEL já quis desmanchá-la e remontar no câmpus, mas não concordamos", conta o engenheiro civil Paulo Victorelli, neto do primeiro proprietário do imóvel. Embora a família tenha consciência do valor histórico da casa, primeiro sobrado de Londrina, segundo ele, os inquilinos não precisam obedecer a exigências específicas. "As pessoas alugam como um imóvel comum. Inclusive, a casa está em uma faixa de desapropriação para ampliação da Avenida Higienópolis e vai ser derrubada um dia."

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