
Pouco mais de 80 anos depois da chegada dos primeiros desbravadores a Londrina, poucas residências construídas pelos pioneiros continuam em pé na cidade. O patrimônio tombado pelo estado é pequeno: são quatro edificações, apenas uma originalmente residencial. O restante dos imóveis de interesse histórico segue à mercê do assédio das construtoras e, na maioria das vezes, acaba cedendo lugar a prédios.
A cada demolição, como a recente do luxuoso palacete dos Dequêch, construído em 1937, na Avenida Duque de Caxias, fica mais clara a necessidade de implantação do Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural, elaborado há dez anos, mas emperrado na estrutura deficiente da secretaria municipal de Cultura.
Embora o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural tenha sido criado com a lei municipal de preservação, em 2011, a listagem de bens de interesse e o tombamento pelo município ainda esbarram na falta de pessoal qualificado para fazer o trabalho. Na diretoria de patrimônio da secretaria de Cultura de Londrina, três pastas contêm todo o patrimônio catalogado por uma equipe de colaboradores e estagiários, desde 2002. "É um trabalho que tem começo, mas não tem fim. À medida que você vai registrando, tem que ir atualizando, porque, eventualmente, no caso da arquitetura, tem bens que são descaracterizados ou demolidos", explica a diretora de patrimônio de Londrina, Vanda de Moraes.
O inventário é apenas o reconhecimento por parte da prefeitura de que um imóvel tem interesse histórico, o que não impede a demolição. "Não conseguimos fazer o registro de algumas edificações e, quando vemos, já demoliram", lamenta Vanda. Exatamente por isso, é impossível saber o que a cidade perdeu ao longo de décadas de demolições. No inventário da secretaria, inclusive, algumas casas já demolidas ainda são contabilizadas entre obras arquitetônicas a serem preservadas. Outras, como a casa dos Dequêch, que foi ao chão recentemente, nunca fizeram parte do levantamento.
Vanda de Moraes defende que a implantação do Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural compreende outras etapas. Algumas delas, segundo a diretora, já estão em andamento, como a divulgação da importância dos bens culturais e a construção de projetos de conscientização popular. "A perda de patrimônio é algo natural em qualquer lugar do mundo. As pessoas precisam ter em mente que a obrigação de preservá-lo não é apenas do poder público. A proteção também inclui orientar o proprietário."
Tombamento
Casarão que recebeu JK é patrimônio histórico estadual
Tombado pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural do Paraná (Cepha) em 2011, a pedido da família proprietária, o casarão dos Garcia Cid foi inaugurado em 1947 e hoje abriga uma agência bancária. Expoente da arquitetura eclética, ao mesmo tempo clássica e moderna, o palacete recebeu importantes autoridades, como os governadores Moisés Lupion e Paulo Pimentel. Até mesmo o presidente Juscelino Kubitschek teria pernoitado lá, durante passagem pela cidade. Antes do casarão, outras três edificações londrinenses foram tombados pelo patrimônio histórico estadual: a Praça Rocha Pombo e o Museu de Arte de Londrina, em 1974, e o Teatro Ouro Verde, em 1998.
Para a diretora de patrimônio da secretaria de Cultura, Vanda de Moraes, o tombamento é apenas o reconhecimento oficial de que um bem é importante. "Mas não é isso que torna uma coisa patrimônio, ela já é patrimônio em função de uma técnica construtiva, da estética ou da questão histórica", define.
Primeiro sobrado foi construído em 1937
Uma das casas remanescentes inclusas no livro de Yamaki é o sobrado dos Victorelli, construído por Theodoro Victorelli, em 1937, na Rua Fernando de Noronha. Atualmente fechado, o imóvel segue nas mãos da família, que o aluga para estabelecimentos comerciais. "Morei muito tempo naquela casa, mas agora não dá mais, é uma área muito comercial. A UEL já quis desmanchá-la e remontar no câmpus, mas não concordamos", conta o engenheiro civil Paulo Victorelli, neto do primeiro proprietário do imóvel. Embora a família tenha consciência do valor histórico da casa, primeiro sobrado de Londrina, segundo ele, os inquilinos não precisam obedecer a exigências específicas. "As pessoas alugam como um imóvel comum. Inclusive, a casa está em uma faixa de desapropriação para ampliação da Avenida Higienópolis e vai ser derrubada um dia."




