
Embora a Casa Latino-Americana (Casla) ofereça cursos à comunidade, não é preciso sentar na carteira para se ter uma aula de Geografia. Ali, descobre-se rapidamente que a cultura do continente é muito mais diversa que o espanhol e o português que supostamente nos aproxima. Dos haitianos ilegais, que atravessaram a fronteira via coiotes pelo Acre, aos paraguaios que aqui ganharam anistia, cria-se uma convergência que coloca o Brasil como o novo "Eldorado" do Cone Sul. A instituição, fundada há 30 anos, tornou-se referência em auxílio a imigrantes e refugiados. São pessoas em busca de documentação, moradia, emprego. Para eles, a recepção da entidade é o lugar em que o sonho brasileiro dá lugar à realidade.
A Casla não sabe precisar quantas pessoas atende, mas são dezenas por semana. Algumas pedem informações e vão embora sem deixar contato. No caso de maior envolvimento, dois voluntários da entidade se tornaram locador e fiador de uma casa para um grupo de imigrantes. O principal suporte é a assessoria jurídica realizada por uma banca de seis advogados, que atua para garantir o acesso à regularização e oportunidades de trabalho. "O governo brasileiro concede os vistos, mas isso não é o suficiente para inseri-los plenamente na sociedade. Temos muitos casos de exploração de mão de obra e preconceito por causa de diferenças étnicas", ressalta Nadia Floriani, voluntária na Casla e presidente da Comissão de Direitos dos Refugiados e Migrantes da OAB-PR.
Além do boca a boca entre os migrantes, a Casla é procurada por indicação da Polícia Federal, consulados e Agência do Trabalhador. Para a entidade, isso revela uma lacuna no serviço de acolhimento aos migrantes e refugiados. O Brasil não cria bloqueios na fronteira, mas após colocar os dois pés para dentro, estão à própria sorte. "Precisamos rever essa postura", defende Nadia.
Integração
A presidente da Casla é a uruguaia Gladys de Souza Sanchez, uma médica que imigrou para o Brasil em 1981. Tantos anos depois, o português dela ainda não substituiu o "ón" pelo "ão" o que serve como lembrete constante da transnacionalidade do espaço. "Quando chegamos aqui, percebemos que havia um desconhecimento grande sobre a realidade do continente. A cidade, em particular, era mais voltada para a Europa, de onde vieram os imigrantes fundadores. Então fundamos a Casla para promover a integração", lembra.
O primeiro grupo era formado por professores e profissionais liberais que fugiram das ditaduras do Chile, Argentina e Uruguai, o que contribuiu para que a entidade assumisse uma função acadêmica, ministrando cursos e ciclos de estudos livre. Hoje mantém no corpo de voluntariado historiadores, sociólogos e geógrafos, entre outros profissionais de Ciências Humanas.



