A decisão de Alaor Natálio em doar o próprio corpo para uma instituição de ensino influenciou a família. Um de seus oito filhos, Ataíde, e a nora, Elídia, farão o mesmo. Ambos já registraram a intenção em cartório. "Pode parecer uma decisão radical, mas na verdade é humana. Por isso vou seguir o exemplo do meu pai sem nenhum peso na consciência", afirma Ataíde.
Ele tomou a decisão em 2000, dois anos após a morte do pai, cujo corpo permanece até hoje sob a responsabilidade da UFPR. À época, ele foi visitar o corpo no Departamento de Anatomia do Centro Politécnico da UFPR. Pesou na decisão, além do exemplo altruísta do pai, que em vida também era doador de sangue, a confirmação de que o cadáver de seu Alaor estava sendo tratado de forma ética e, principalmente, estava sendo útil ao aprendizado dos futuros médicos.
Antes do corpo ir para a UFPR, a família ainda cumpriu outra vontade de seu Alaor. "No velório, o corpo dele estava pilchado (vestido com as roupas típicas gaúchas), o que também era um desejo dele", afirma Ataíde. O pai, mesmo mineiro de nascimento, era freqüentador de Centros de Tradição Gaúcha (CTG).
O exemplo de seu Alaor, que contou com a ajuda dos oito filhos e do genro Osmar para ter seu desejo realizado após a morte, não estimulou apenas a família. Foi a partir desse caso que o médico José Geraldo Auerswald Calomeno criou a Comissão de Distribuição de Corpos para Estudo e Pesquisa em 1998. Ciente da dificuldade das instituições de ensino em obter cadáveres para estudo, Calomeno foi pessoalmente ao IML conversar com os Natálio assim que ouviu falar do interesse da família em doar o corpo.
Antes de Calomeno interceder, Ataíde havia entrado em contato com os departamentos de Anatomia da própria Universidade Federal do Paraná, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e da Faculdade Evangélica. Nenhuma quis se responsabilizar pelo corpo. A alegação era de que não havia um documento registrado que comprovasse a decisão de seu Alaor em vida, apesar de uma carta escrita a mão por ele narrando tal ensejo.
Tudo acertado com os Natálio para levar o corpo ao Departamento de Anatomia da UFPR, onde leciona até hoje, Calomeno teve ainda que contornar outra barreira. Como até então jamais haviam emitido um documento deste gênero, os cartórios não queriam registrar a doação do corpo de seu Alaor à UFPR. A questão só foi resolvida quando Calomeno recorreu ao presidente da seccional paranaese da Associação Brasileira de Notários e Registradores (Anoreg-PR) da época, Rogério Portugal Bacellar. (MXV)



