
Telefones celulares podem causar câncer. A conclusão está em um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ontem, na França, e vem ao encontro de hipóteses levantadas por diversos pesquisadores na última década. O estudo, realizado por uma equipe de 31 cientistas de 14 países analisou centenas de pesquisas sobre as consequências da exposição a campos eletromagnéticos, como os emitidos pelos aparelhos celulares. O relatório completo sai no dia 1.º de julho no site da revista científica The Lancet Oncology, internacionalmente reconhecida por reunir pesquisas da área oncológica. Segundo o estudo da OMS, o uso de celular possivelmente leva a casos de glioma (um tipo de câncer no cérebro) e neuroma do acústico (um tumor benigno entre o ouvido e o cérebro).
No Brasil, que vive um mercado borbulhante no segmento de aparelhos celulares, com ofertas de planos para falar de modo ilimitado e incentivo à troca do telefone fixo pelo celular, a divulgação do resumo da pesquisa causa alvoroço. "A OMS demorou muito para lançar este alerta, um tempo importante se considerarmos que há mais de 5 bilhões de usuários de celulares no mundo", diz o professor doutor Álvaro Augusto Almeida de Salles, da Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que pesquisa os efeitos biológicos das ondas eletromagnéticas desde a década de 1980. "Há na literatura científica internacional pesquisas que cobrem os efeitos de 8 a 10 anos de exposição à radiação de celulares por pessoas que usam mais de 30 minutos por dia dando conta de que há entre eles maior probabilidade de tumores."
No relatório, Christopher Wild, diretor da Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer da OMS, comenta que, dadas as consequências destas descobertas para a saúde pública, "é importante que pesquisas adicionais sejam conduzidas" e, dependendo das informações coletadas, seria importante tomar medidas que reduzissem a exposição.
Ubirani Barros Otero, chefe da área de vigilância do câncer relacionado a trabalho e ambiente do Instituto Nacional de Câncer (Inca), explica que no relatório o uso do celular teve risco classificado como 2B, o que significa que há evidências em estudos de que pode causar câncer, mas isso ainda não é definitivo. E que há outros fatores de risco, principalmente o genético. Para José Clemente Linhares, médico oncologista do Hospital Erasto Gaertner, a princípio o relatório não demonstra se foram considerados outros fatores, e que é importante aguardar com tranquilidade a pesquisa na íntegra. "Se houver alguma recomendação no sentido de reduzir ou, quem sabe, até de extinguir o uso de celular, a OMS com certeza irá se pronunciar e explicar os motivos desta medida", diz.
O maior problema é usar o celular encostado na cabeça, diz o professor doutor Álvaro Augusto Almeida de Salles. E isso causa uma radiação bastante superior às normas menos restritivas existentes. "O problema é que os tumores cerebrais vão aparecer daqui a anos, pois o período de latência é de 8 a 10 anos", diz. Para José Otávio Banzzatto, engenheiro eletricista e de telecomunicações da Copel, o mais danoso do celular "é que ele é um transmissor de ondas eletromagnéticas. O aparelho é uma micro-estação, com transmissor, antena e bateria", diz.
Segundo o doutorando Claudio Fernandes, que desenvolve tese sobre o efeito do celular no cérebro humano na UFRGS, existem formas de se trabalhar com menos potência, e em outros tipos de modulação, menos agressivas e que esse reconhecimento da OMS talvez resulte em um ajuste técnico.
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