
Entulho, caixões à mostra e até ossos expostos. Esse é o cenário encontrado na maioria dos cemitérios municipais de Curitiba, nos quais a lamentação dos familiares acaba indo além da "perda dos entes queridos".
No Cemitério Municipal Santa Cândida, por exemplo, não é difícil encontrar jazigos totalmente abertos com entulho e ossos expostos. Cenário que revolta Ana Maria Sartorato. "Aqui, quebraram um pedaço da cerâmica e acenderam vela perto. Parece que a família não cuida, mas não é verdade", diz a aposentada ao lado do local onde ela homenageia as memórias de um cunhado, da mãe e de um neto.
A situação se repete no outro extremo da cidade. O Cemitério Municipal do Boqueirão exibe falta de organização e descuido com os vivos e os mortos. Há menos túmulos abandonados que no Santa Cândida, mas, em compensação, materiais de construção estão largados nos corredores e as gavetas vazias abrigam, ao invés de corpos, pães secos, copos de água, garrafas de bebida alcoólica e litros descartáveis.
A dona de casa Maria Helena Bertuletti há 30 anos visita o jazigo da família no Cemitério do Boqueirão. Segundo ela, nesse tempo pouca coisa mudou. "É muito abandonado. Eu acho que tinha de ser um lugar bonito, porque é a última morada da gente", reclama.
Além do Boqueirão e do Santa Cândida, há outros dois cemitérios municipais em Curitiba, o São Francisco de Paula e o Água Verde. De acordo com a prefeitura, cada um deles tem três funcionários na administração, que são responsáveis por fiscalizar obras, conservação de túmulos e segurança
Mas esse efetivo, somado ao empregado pela Guarda Municipal, parece não ser suficiente para garantir a segurança dos locais. Segundo visitantes, além do consumo de drogas dentro dos cemitérios, furtos são comuns em túmulos. Em alguns jazigos restam apenas sinais de placas e cabos de metal retirados para a venda.
Com exceção do Santa Cândida, que é patrulhado com rondas de efetivo externo, os demais cemitérios municipais de Curitiba contam com agentes fixos da Guarda Municipal. No total, são dois guardas por turno e quatro viaturas disponíveis para patrulha dentro e fora dos muros que margeiam os túmulos.
Apesar de reconhecer os problemas apontados pela reportagem, Odigar Cardozo, diretor da Guarda Municipal, diz que medidas adotadas já melhoraram a situação. "No Água Verde já temos um sistema com seis câmeras que reduziu em 90% as ocorrências; e no São Francisco de Paula estamos subindo os muros e colocando cerca", argumenta o Cardozo, que credita aos movimentos góticos a responsabilidade por parte das depredações. "Esses grupos entram nos cemitérios para usar drogas e beber e, às vezes, vandalizam o local".



