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Jardim Icaraí: ocupação desordenada e rixa com o vizinho Jardim União ajudam a explicar violência | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Jardim Icaraí: ocupação desordenada e rixa com o vizinho Jardim União ajudam a explicar violência| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Projeto prevê mudanças no Bolsão

Os becos e vielas do Jardim Icaraí podem estar com os dias contados. É que o Bolsão Audi-União, zona em que se localiza o Jardim Icaraí, está sendo objeto de intervenção do poder público. "Temos plena convicção de que, ao final da intervenção, teremos melhorias na questão de segurança", afirma o presidente da Companhia de Habi­tação Popular de Curitiba (Cohab-CT), Mounir Chaowiche.

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ONG aponta uma receita para áreas de ocupação

"O problema de violência é mais sério que a ausência da polícia. É uma epidemia que vai contaminando as pessoas". A afirmação é do coordenador do projeto Viva Comunidade, ligado à ONG Viva Rio, Tião dos Santos. O especialista defende um conjunto de ações integradas em várias frentes para diminuir a violência: polícia, desarmamento, gestão integrada, ação da comunidade e ocupação do espaço pelo Estado.

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Heróis da resistência

A auxiliar de serviços gerais Daniele Gomes, 20 anos, mora e trabalha no Jardim União. "Com orgulho", diz. Quando pôs o pé na vila, junto com a mãe e a irmã, fugitiva de um pai violento, a ocupação estava começando.

Heróis da resistência

Heróis da resistência

A auxiliar de serviços gerais Daniele Gomes, 20 anos, mora e trabalha no Jardim União. "Com orgulho", diz. Quando pôs o pé na vila, junto com a mãe e a irmã, fugitiva de um pai violento, a ocupação estava começando. Havia barracos de lona e nada de água e luz. Os terrenos eram delimitados por arames ou cordas. A rua era apenas um carreiro no meio do mato.

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Na Vila Zumbi, um exemplo de melhoria

Em apenas meia década, uma das áreas mais violentas e miseráveis do Paraná se transformou em um bairro urbanizado e relativamente seguro. Surgida em 1991, a partir da ocupação irregular de uma área de manancial às margens do Rio Palmital, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, a Vila Zumbi dos Palmares vem passando por um processo de transformação graças às intervenções urbanas e à atuação de programas sociais na região.

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  • Veja como vivem as famílias do Bolsão Audi-União

Há exatos sete dias, o bairro Ube­raba, em Curitiba, viveu uma tragédia anunciada. A morte de oito pessoas, na maior chacina já registrada em Curitiba, levou a região às manchetes. Ao misturar num mes­­mo ponto a ausência do Esta­do, miséria, falta de oportunidades, desestruturação familiar, drogas, desigualdade social, ausência de identidade social e problemas urbanísticos, o resultado foi fatal. Os ingredientes explosivos estão presentes nas periferias das grandes cidades do país, dizem os especialistas, e a capital paranaense não foge disso.

"A violência não é típica da pobreza, mas nasce da sociedade com problemas de valores e com vulnerabilidade social. Essa é uma população à mercê de aventuras. Elas se inserem em aventuras para sobreviver ou em busca de uma identidade social", afirma o doutor em Sociologia e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Lindomar Wessler Bonetti. "Nós nos acostumamos a olhar e achar normal uma periferia, com pessoas morando sem condições, sem esgoto, transporte coletivo", diz.

Ocupando uma área de 14 quilômetros quadrados no leste da cidade, o Uberaba concentra uma infinidade de regiões diferentes e complexas. Falar apenas em Uberaba não ajuda a entender de fato o que ocorreu lá. Para isso é preciso ir mais fundo, até o epicentro da tragédia, no Bolsão Audi/União, um complexo formado por sete vilas numa área de 1,6 quilômetro quadrado, delimitada pela Rio Iguaçu e pela via férrea de um lado e pela BR-277 e Avenida das Tor­­res de outro.

Com uma população estimada em 10 mil pessoas, o Bolsão – complexo que compreende as Vilas Yasmin, Solitude II, Icaraí, Alvorada II, Audi, Jardim União e União Ferroviária – começou a ser invadido em 1998 e, em pouco tempo, se tornou uma das maiores áreas de ocupação da capital paranaense, reunindo ex-moradores de outros cantos da cidade, da região metropolitana, do interior do Paraná e de outros estados.

Mesmo com a proximidade e uma ocupação quase que conco­mi­tante, as várias vilas, porém, fo­­ram se desenvolvendo de forma di­­­ferente e adquirindo peculiarida­des. Duas delas são peças fundamentais para entender co­­mo se desenhou a chacina que pôs em alerta a comunidade e levou Cu­­ri­­tiba ao noticiário policial nacional.

Jardim União x Icaraí

A rixa é antiga e conhecida. Quem mora no Bolsão Audi-União sabe que é risco de morte atravessar a li­­nha inimiga. De um lado, o Jar­dim União, com 798 famílias, ca­­sas alinhadas, lotes bem definidos e ruas desenhadas. Do outro lado, numa área de cavas, o Jardim Ica­­raí, com 687 famílias, barracos so­­brepostos, becos, ausência da rede de luz e de água, material de reciclagem espalhado e uma população que depende, em 90% dos ca­­sos, do lixo recolhido em Curitiba. Entre as duas vilas, encontra-se a União Ferroviária, espécie de terreno neutro.

A desigualdade social entre as duas vilas – uma de ocupação ordenada, outra desordenada – acirrou os ânimos dos habitantes. A disputa de pontos de comércio de drogas, quando o crack chegou para ficar, piorou a situação. De repente, quem era de um lado deixou de passar para o outro. "Esses meninos do tráfico têm a minha idade, brincávamos todos junto quando éramos crianças. Agora eles estão se matando", diz Jéssica (nome fictício), 20 anos, moradora do Jardim União desde os onze.

Os jovens são os que comandam o tráfico na região e também os que matam e morrem. Entre os oito mortos na chacina, cinco tinham entre 15 e 25 anos e dois tinham 29 anos. Havia também um bebê de 5 meses. Entre os seis suspeitos do crime, a faixa etária é igualmente baixa: 18 a 25 anos. Wagner Jayson Pascoal, o "Nar­dão", segundo a polícia o mandante da matança e chefe do tráfico do Icaraí, tem 23 anos.

Para o sociólogo especialista em violência Júlio Jacobo Waiselfiscz, da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), esse perfil tem eco no cenário nacional. De 35 milhões de jovens, cerca de 20% não estudam e nem trabalham, lembra ele. A escassez de condições econômicas favoráveis, au­­sência de educação e oportunidades para o jovem da periferia acaba suscitando a busca pela reconhecimento por um via diferente: a violência. "É o caminho fácil para o jo­­vem ter respeito em uma sociedade que cobra realizações", explica.

É aí que se desenvolve a busca pela identidade social, lembra Bonetti. "Sem vínculo familiar, empregatício, como esse jovem se sente morando praticamente na rua, em situação de favela?", pergunta. "Ele existe apenas quando tem uma arma em punho", afirma o delegado federal e secretário municipal Antidrogas de Curitiba, Fernando Francischini.

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