
O aposentado Haroldo Voigt, especialista em enigmas, sai em defesa da charada em relação à palavra cruzada, passatempo com público cativo em jornais e almanaques. "Para preencher uma cruzadinha, basta decorar as palavras, que sempre se repetem", opina. Para ele, a charada desenvolve o raciocínio, assim como o jogo de xadrez, e estimula a pesquisa em dicionários e o interesse pela língua portuguesa. "As escolas deveriam adotar a charada para estimular a inteligência das crianças, fazendo torneios internos", sugere.
As charadas podem contribuir para a formação do estudante na opinião do professor de literatura infantil na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e doutor em educação pela Universidade de Londres, Jefferson Mainardes. "Na escola, é preciso trabalhar com diversidade de textos para a formação do leitor. Além do livro didático, outros gêneros devem ser trabalhados, como lendas, trovas, poesias e até charadas", comenta. Ele sugere que o professor, além de apresentar as charadas, estimule o aluno a produzir seus próprios enigmas para consolidar a aprendizagem.
Mainardes admite que a charada ainda é um gênero visto como entretenimento e é pouco usual nas escolas. Para estimular o raciocínio, é mais comum o uso das adivinhações. A pouca diversidade de textos, como as charadas, segundo Mainardes, se reflete na baixa produtividade dos estudantes na língua portuguesa. "Os alunos ficam 11 anos na escola e saem com um domínio aquém do esperado na língua portuguesa", afirma.
Voigt lamenta que a charada, por exigir maior empenho por parte do desafiado, esteja caindo em desuso. Ele já chegou a publicar cerca de 1.500 enigmas na imprensa paranaense, mas há quase um ano cessou a divulgação e produz apenas para "passar o tempo". Como resultado dessa produção, há 467 enigmas inéditos prontos para serem resolvidos pelos adeptos ao estilo. (MGS)



