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Entrevista

Chuva forte é sinônimo de catástrofe no Brasil

 | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
(Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

Entrevista com Ney Perracini de Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Civis.

No Brasil, uma chuva forte pode significar uma verdadeira catástrofe. Tempestades antes consideradas raras já são mais frequentes. Cenas na televisão ou notícias nos jornais sobre inundações, alagamentos e desmoronamento tornaram-se corriqueiras. De acordo com o presidente da As­­sociação Brasileira de Enge­nheiros Civis (Abenc), Ney Per­raci­­ni de Aze­vedo, quando se fala em catástrofe no Brasil hoje, inevitavelmente fala-se em chuvas. "A chuva é o nosso maior problema", diz. Nesta semana, de se­­gunda a quarta-feira, Curitiba sedia dois seminários nacionais sobre catástrofes e como lidar com situações de emergência. O enfoque? Como evitar que as cidades sejam engolidas pelas chuvas. Acom­panhe um trecho da entrevista com Azevedo.

Quando se fala em enfrentamento de catástrofe hoje, no Brasil, quais são os maiores problemas?

Falta gestão técnica das cidades e participação dos engenheiros no processo de planejamento urbano. Os planos diretores e os de­­mais instrumentos da legislação urbana local, em alguns municípios, são muito tolerantes quanto à área de risco, permitindo construções em lugares inadequados. As áreas de risco não são só em favelas. Existem municípios onde casas de alto padrão estão sendo feitas em local impróprio, com uma legislação municipal tolerante.

Especificamente quais os principais erros cometidos?

O problema tem várias facetas, conforme o município. Em São Paulo, são poucas as áreas verdes. Diminuiu muito a absorção do solo da água da chuva e, com isso, aumentou o risco de enchente. Em outras cidades há uma ocupação de faixas muito próximas a rios que, de tempos em tempos, são alagadas. A população que fica ali não percebe isso e vê a ocorrência como uma fatalidade, mas a verdade é que é um fato que poderia ser previsto. Existe também a ocupação indevida de encostas. Em vários municípios, casos de deslizamento são frequentes. Outro problema é o período pós-catástrofe. Em Ma­­naus, dão um pouco de madeira e o sujeito reconstrói o barraco da mesma maneira que era antes. O risco continua o mesmo. Em algumas cidades catarinenses, a reconstrução também está deixando a desejar sob os aspectos técnicos.

Além de rigor na legislação, o que fazer para evitar o caos, como aconteceu em São Paulo na última semana?

Um mapeamento de risco é fundamental para que se reconheçam quais áreas estão mais sujeitas a sofrer algum prejuízo em função da natureza e como o problema pode ser atacado. Para cada área tem de ser feito um projeto específico para diminuir este risco ou eliminá-lo.

Há cerca de três semanas, Curi­tiba viu em duas horas e meia o caos tomar conta da cidade por conta de uma chuva. Isto pode ser um indício de que a cidade não está preparada para lidar com catástrofes?

Curitiba melhorou muito com as obras, mas é evidente que tem de melhorar mais. Cair ponte é uma coisa absurda. Agora, eu não vejo que as catástrofes sejam um problema em Curitiba. A cidade é até exemplo. Os parques daqui são um exemplo para o Brasil, porque eles estão nas margens dos rios e isso evita que essas áreas sejam ocupadas.

Qual a receita para enfrentar catástrofes naturais?

Primeiro, uma legislação mais rigorosa. Segundo, um mapeamento da áreas de risco. Terceiro, elaborar um ataque técnico da questão, buscando soluções de engenharia. Isso que está faltando. Muitas soluções são postergadas ou não devidamente consideradas. Como as ocorrências, principalmente as chuvas fortes, não acontecem no dia a dia, as administrações vão deixando e isso vai passando.

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