Dados da Sociedade Brasileira de Queimaduras mostram que, a cada ano, 150 mil pessoas sofrem acidentes graves envolvendo álcool líquido. Dessas, 45 mil são crianças. Só no Hospital Evangélico (HE), referência no tratamento de queimados no Paraná, 38 crianças foram atendidas por conta de queimaduras com esta causa em 2006. No entanto, o álcool não é o único causador das queimaduras entre crianças. Dos 237 atendimentos em 2005, 57% foram de crianças com idades entre 1 e 3 anos. Desses, 70% foram de escaldamento com líquidos quentes. Em metade dos casos, o causador da queimadura era água fervendo.
A coordenadora-regional da ONG Criança Segura, Alessandra Françóia, aponta que a maioria dos acidentes poderia ser evitada se os pais não permitissem a presença das crianças na cozinha. Segundo ela, é com objetivo de orientar profissionais da área de saúde e educação que a ONG, em parceria com o HE e a Faculdade Evangélica do Paraná, organiza hoje o I Ciclo de Palestras de Prevenção de Acidentes com Crianças. O evento lembra o Dia Nacional de Luta Contra Queimaduras, amanhã. "O objetivo é orientar esses profissionais para que se tornem multiplicadores desses cuidados", afirma.
No ciclo, serão discutidas prevenções a acidentes e orientações de primeiros socorros. Um dos maiores erros é passar produtos e receitas caseiras na queimadura. "Não se deve colocar gelo ou nenhum tipo de produto, porque além de piorar o estado da queimadura, isso dificulta o diagnóstico. O correto é colocar apenas água corrente", alerta. Alessandra ressalta ainda o fato do grau de abrangência das queimaduras nas crianças ser maior. Isso porque além da superfície corporal delas ser pequena, a pele também é mais sensível.
O médico José Eduardo Viana, da equipe do departamento pediátrico de queimados do HE, ressalta ser importante levar a criança o mais rápido possível ao hospital. "Quando ocorre uma queimadura, há perda do plasma que compõe o sangue e com isso uma redução do volume sanguíneo. É como se houvesse uma hemorragia", explica.
Enquanto que nas crianças de até 3 anos o mais comum são queimaduras decorrentes de alimentos e líquidos quentes, na faixa dos 5 a 10 anos o mais freqüente são ferimentos por álcool líquido. O perigo do produto está na evaporação, muitas vezes não percebida por quem o manipula. Quando o fogo é aceso, o vapor pode causar explosão.
Em fevereiro de 2002, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a venda de álcool líquido. Seis meses depois os fabricantes obtiveram liminar liberando a comercialização. Segundo Alessandra, no período em que a venda ficou proibida houve redução de 50% nos acidentes.
Serviço: O I Ciclo de Palestras de Prevenção de Acidentes com Crianças ocorre hoje, a partir das 14 horas, na Faculdade Evangélica. Informações: (41) 3023-7070.
