
O incêndio no antigo Cine Ouro Verde, em Londrina, trouxe à tona uma realidade preocupante para os cinéfilos do Paraná. O cinema de rua, tanto em Londrina quanto nas outras grandes cidades do interior, está praticamente extinto e sem previsão de ser recuperado. No passado, as salas de projeção que se abriam para as calçadas foram figuras importantes na vida cultural dessas cidades, mas a popularização da televisão e o surgimento dos shopping centers fizeram com que a imensa maioria virasse igreja, loja de departamento ou mesmo estacionamento. Em Curitiba, um alento: a Fundação Cultural do município (FCC) pretende reabrir três salas nos próximos anos.
Para o crítico de cinema Carlos Eduardo Lourenço Jorge, frequentador dos cinemas de rua londrinenses nos anos 80, as salas de exibição passaram por inúmeras "crises de sobrevivência", decorrentes da concorrência com a tevê e de modificações nos hábitos sociais. "Houve uma mudança de suporte, da celulose (nitrato de celulose, plástico utilizado na produção das películas de filme) para o vídeo, e as pessoas passaram a consumir cinema em casa. Só que em casa não há magia nenhuma, porque as pessoas assistem com a luz acesa e param o filme para comer", avalia.
Aos poucos, de acordo com ele, ocorreu um retorno ao cinema. "As salas se readequaram para tamanhos menores e os cinemões deixaram de ter razão de existir", conta. Depois, com o hábito crescente dos jovens de frequentar shoppings, os cinemas começaram a migrar para esses espaços.
Segundo o diretor do Museu da Imagem e do Som do Paraná (MIS), Fernando Severo, os espaços multiplex têm vantagens competitivas sobre os antigos cinemas de rua, que, por esse motivo, não sobreviveram. Em primeiro lugar, eles oferecem mais praticidade ao espectador, com estacionamento próprio e espaços de lazer pré e pós-filme (cafés, livrarias, lojas). Em segundo lugar, ao contarem com várias salas, oferecem opções variadas em um só lugar. Além disso, a qualidade da projeção e o conforto dos assentos são maiores.
Esses locais, por outro lado, deixam pouco espaço para produções de fora do circuito comercial. "Eles pertencem a grandes grupos dedicados à exploração comercial do cinema", explica Severo. Segundo ele, embora a maioria dos cinemas de rua do Paraná também apresentasse finalidade comercial, havia espaço entre as grandes produções para filmes menos lucrativos. "O Plaza [em Curitiba], por exemplo, passava de blockbusters a Ingmar Bergman", relembra.
Cinemas públicos
Uma possibilidade de retomada desses ambientes culturais é a criação de cinemas sem fins lucrativos pelo poder público, como foi feito em Curitiba nos anos 80 pela FCC, e deve ocorrer novamente nos próximos anos. Fora da capital, entretanto, não há previsão de movimentos nesse sentido. Segundo Severo, o alto custo dos cinemas impede que o governo estadual crie novas salas no interior.




