Um homem inconformado com a separação, um histórico de brigas e reconciliações e um relacionamento marcado pela violência física e psicológica, briga na frente dos filhos e crises de ciúme extremo. A história de violência doméstica do garçom Valdecir da Silva Fontoura, de 43 anos, e da garçonete Taís Giovana da Silva, de 31, culminou ontem com ele mantendo a ex-esposa e a enteada como reféns durante 3 horas e meia, no bairro Umbará, em Curitiba.
Como em muitos outros casos de violência doméstica país afora, o episódio de cárcere privado começou com a promessa de Valdecir de que ele queria rever a ex-esposa, de quem está separado há seis meses, após seis anos de casamento. Também queria dar um abraço no filho de 3 anos e na enteada, de 9. E prometeu que não seria violento.
No domingo, dia de Natal, Valdecir passou na casa da ex-mulher, num conjunto modesto de casas intitulado Condomínio Buenos Aires, onde moram cerca de 20 pessoas, todas já cientes das brigas do casal. Após conversar normalmente com Tais, o garçom iniciou uma discussão. Foi mandado embora, mas voltou no dia seguinte.
No fim da manhã de ontem, apareceu quando 10 vizinhos se reuniam na área comum do local. Mais exaltado, xingou a mulher e mostrou uma arma, carregada, para os presentes. Os vizinhos, sem que ele notasse, chamaram a polícia. Com a chegada das viaturas, Fontoura se descontrolou e tentou arrastar Tais e duas mulheres para uma casa vizinha, sob a mira da arma.
Uma das mulheres escapou, mas Tais e outra vizinha não. A filha já estava dentro de casa e não conseguiu sair. Começou ali a agonia que duraria três horas e meia. A filha e a vizinha foram liberadas por volta das 14 horas, mas a ex-mulher teve de permanecer sob a mira da arma por mais uma hora.
Com a confirmação de que havia um cárcere privado, seis equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) foram ao local. O tentente-coronel Nerino Mariano de Brito assumiu a negociação. "É sempre muito difícil [essa situação]. Há sentimentos envolvidos", afirma. Após longa conversa, e a garantia de que não seria ferido, Fontoura se entregou.
Na rua, o sentimento era de alívio e também de resignação. "Um dia ou outro isso iria acontecer. A gente meio que já sabia", diz o filho de uma das mulheres que quase foram rendidas, Antônio Junior. "Ela chegou a ir à delegacia da mulher, mas desistiu, porque tinha medo de que ele ficasse ainda mais violento."
Arrependimento
Com o fim do cárcere privado, e com Tais atendida por equipes médicas, os dois, em viaturas diferentes, seguiram para a Delegacia da Mulher. Após ouvir Tais, a delegada Sâmia Coser deve ter mais elementos para indiciar Fontoura. A princípio por porte e posse ilegal de armas e cárcere privado. Exames devem apontar se houve violência física ou sexual, e em caso de confirmação, ele pode ser autuado por lesão corporal e estupro.
Em conversa informal com repórteres, Fontoura diz estar arrependido, e garante que não pretendia matar Tais. "Eu pretendia fazer ela se sensibilizar dizendo que eu iria me matar. Eu queria que ela voltasse pra mim. Não iria machucá-la, prometi pra ela que não faria nada disso."
O garçom ainda disse que toma antidepressivos desde a separação, e que não é viciados em drogas. A polícia primeiramene afirmou que o garçom, que trabalha em cruzeiros, não possui antecedentes criminais, mas Fontoura foi imigrante ilegal nos Estados Unidos por nove anos, e as investigações devem apontar se ele cometeu algum crime e se é procurado no país.



