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Material saiu do lixo doméstico

Fábio Reali, diretor de Operações da CMTU, inicialmente afirmou não ter conhecimento da existência das pilhas e nem da origem delas. Horas mais tarde, depois de verificar, afirmou que as pilhas são oriundas do lixo doméstico e foram separadas na coleta seletiva.

Segundo ele, as pilhas começaram a ser levadas para a área há cerca de quatro anos. A legislação ambiental permite que as pilhas sejam despejadas em aterros. Questionado por que não foi dado esse destino a elas, Reali argumentou que as pilhas mais antigas são mais prejudiciais ao meio ambiente e, por isso, o material não foi para o aterro.

Reali garantiu que, nesta semana o material será acondicionado em bombonas (tambores plásticos) e que, até a próxima semana, deve haver uma definição sobre o destino. A princípio, as pilhas serão mandadas para um aterro industrial na região.

O diretor disse que não deve abrir procedimento administrativo para investigar a conduta do funcionário da CMTU identificado ao deixar as pilhas no local. "Considero que foi um erro, mas tentando acertar. Se o material está lá era para impedir que fosse para o aterro. Não houve dolo ou má fé do servidor, que é compromissado com a questão ambiental".

Questionado se a exposição de crianças e moradores à toxicidade das pilhas não torna urgente uma séria apuração, admitiu: "Se está perto de crianças é uma falha grande. Descuido que será punido na proporção do que ocorreu".

A reportagem do Jornal de Londrina flagrou nesta quinta-feira (22) milhares de pilhas e baterias descartadas irregularmente num terreno da Prefeitura localizado na Chácara São Miguel (zona sul), onde, ao ar livre, o material em estado avançado de deterioração, contamina a área e coloca em risco moradores e meio ambiente. Avisado, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) confirmou a irregularidade e entregará nesta sexta-feira, durante reunião na sede do Ministério Público (MP), a autuação para a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), órgão responsável pelo gerenciamento do lixo em Londrina, no Norte do Paraná, que ainda pode ser multada. Um inquérito policial deve ser aberto, a pedido do MP.

Moradores do vilarejo contam que, há dois anos, um funcionário da CMTU tentou descartar o material na ONG Central de Prensagem e Venda de Reciclados (Cepeve), instalada próximo ao local onde hoje estão as pilhas, mas os trabalhadores rejeitaram. "Achamos que era químico e perigoso e não concordamos em deixar no mesmo lugar que a gente trabalhava. Houve bate-boca e, no fim, largaram lá", recorda um ex-funcionário da Cepeve, que presenciou o episódio.

As pilhas são de vários tamanhos e marcas e já estavam vencidas quando despejadas na área. Dezenas de embalagens estavam intactas, indicando que grande quantidade sequer fora usada. Parte do material ainda está em caixas de papelão que, com o tempo, rasgaram. Outra parte está espalhada pelo chão.

A menos de cinco metros do local, mora Luciane Aparecida Catarino, 31 anos, e seus três filhos - a mais velha, com 12 anos. "A gente fala para as crianças não irem lá, mas elas vão e pegam as pilhas para brincar". Um ex-funcionário do local também afirmou à reportagem que as pilhas, assim que depositadas, foram levadas em sacos pelos sitiantes da região: "A quantidade era muito maior do que essa. O que tem aí é menos da metade".

José Carlos dos Santos, fiscal do IAP, classificou as instalações como "totalmente inadequadas" para abrigar pilhas. "O local é coberto, mas parte das pilhas está em contato direto com o solo. É um material altamente tóxico que, além de absorvido pelo solo, pode ser carregado pela chuva até o rio (Cafezal)". As pilhas contêm filamentos de carvão e uma manta de proteção que são tóxicos. Com o tempo, oxidam e liberam o líquido formado por essas substâncias.

Além dos riscos ao ambiente, o material pode causar graves danos à saúde humana. Segundo Santos, o resíduo pode levar a intoxicações e até ao câncer, dependendo da exposição. O fiscal do IAP chamou a atenção para o fato de que, embora em níveis baixos, as pilhas, quando úmidas, entram em eletrólise e emitem radioatividade.

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