
A Colônia Penal Agrícola (CPA), unidade do sistema penitenciário paranaense de regime semi-aberto, localizada em Piraquara, na região metropolitana, tem um apelido carinhoso entre os presos: "portaria". Não é por menos. O local virou sinônimo de liberdade prematura para os detentos que ganham as ruas antes de terminar de cumprir suas penas. A falta de estrutura da unidade, o próprio regime semi-aberto e o estímulo de outros presos e agentes penitenciários podem explicar a fama.
De acordo com dados do De-partamento Penitenciário do Paraná (Depen-PR), no ano passado, 92% dos fugitivos e evadidos do sistema penitenciário paranaense eram provenientes da CPA. Só nos dois primeiros meses de 2008, 254 presos fugiram ou evadiram-se do local. No mesmo período, a unidade recebeu 440 presos. É como se mais da metade (57%) dos presos que entraram já estivessem nas ruas novamente. Neste mesmo período, 41 foram recapturados e 27 foram mortos.
Além das razões já mencionadas para o problema, agentes penitenciários dizem que ramificações nos presídios paranaenses da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) estimulariam os presos que recebem a progressão de regime e são encaminhados à CPA a fugir da unidade ou evadir-se (não voltar a se apresentar depois de uma saída autorizada). Com isso, novas vagas seriam abertas na CPA, possibilitando que outros presos utilizassem a "portaria".
"É ordem do PCC, fugir para abrir vagas para quem está no regime fechado", conta o agente penitenciário João (nome fictício), 25 anos. Por outro lado, os próprios agentes penitenciários são apontados por foragidos como responsáveis por instigar as fugas e evasões. "Eles ficam dizendo para nós: Por que você está aqui ainda, por que não vai embora, toma o teu rumo", conta Marcelinho (nome fictício), 26 anos, foragido desde o ano passado.
O ex-agente penitenciário Júlio (nome fictício) não confirma, mas diz que os presos tinham liberdade para fugir na época em que trabalhava no sistema penitenciário do Paraná. "A orientação é que se o preso quisesse fugir, era para deixar", conta. João nega. "Eu acho muito difícil, porque sempre tem sindicância e são muito rigorosas. Caso descubram, o agente é demitido", afirma.
Os caminhos
Para tomar o rumo de casa definitivamente, os presos da CPA têm dois caminhos. Um deles é a fuga propriamente dita da unidade. Um ponto chamado de "caminho das torres gêmeas" é utilizado como referência entre os presos. Trata-se de dois pinheiros altos, localizados já fora da propriedade da CPA, usados como guia na hora de encontrar um local de saída fácil.
Os presos da CPA que querem fugir "pegam o verde", como eles chamam o ato de se embrenhar no mato rumo ao "caminho das torres gêmeas". Chegando neste local, segundo relatos de moradores da região, os presos trocam a roupa suja por roupas limpas, que chamam menos atenção. Em uma rápida caminhada pelo local, aliás, é possível verificar a cerca danificada e roupas sujas jogadas no chão.
Dali em diante, o meio de transporte comum utilizado rumo à liberdade é simples: uma carona no ônibus da linha Vila Macedo. Relatos de foragidos da CPA e agentes penitenciários confirmam que o ônibus é utilizado constantemente pelos fugitivos. "O motorista nem diz nada, só abre a porta de trás e deixa o cara entrar", conta Marcelinho. "Na época em que eu ainda trabalhava como agente penitenciário já usavam o Vila Macedo para fugir", conta o ex-agente penitenciário Marcos (nome fictício), que deixou a função há nove anos.
O segundo meio de tomar o rumo de casa é baseado nas "portarias" concedidas aos presos pela Justiça, que os autoriza a passar alguns dias com a família, mas que estabelecem data e horário para voltar. Na prática, grande parte dos presos vai, mas não volta, entrando para a contabilidade da CPA como evadidos do sistema. É justamente pelas tais "portarias" que originaram o apelido dado à unidade pelos presos.




