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De vez em quando aparece alguém com uma tese ou dissertação para eu corrigir. Embora não se trate do meu ofício padrão, digamos assim, muitas vezes acabo aceitando a tarefa. O engraçado nessa história toda é que invariavelmente me pedem para fazer "uma correção ortográfica". Se fosse seguir à risca o pedido da maioria dos clientes, era possível corrigir centenas de páginas por dia. Conforme o número de trabalhos, até que dava para pegar uma praia nas férias.Deixando de lado o tom de brincadeira, o fato é que para a maioria dos brasileiros – e estou me referindo àqueles bem estudados – língua é sinônimo de ortografia. Mas não é nada disso. Na verdade, existem inúmeras línguas sem ortografia, são apenas faladas. No Brasil, se não houver centenas, podemos falar pelo menos em algumas dezenas de línguas que não têm um sistema de escrita. Nem por isso são menos ricas e complexas como qualquer língua do mundo. Todas elas são organizadas por uma gramática implacavelmente lógica e precisa.

Sistemas ortográficos, pela regra geral, são criados muito tempo depois da língua. Eles são arbitrários: literalmente algumas pessoas arbitram como devemos escrever. Até o ano passado, por exemplo, tínhamos acento em "assembléia" (agora sem acento) e diferenciávamos "dia-a-dia" (cotidiano) de "dia a dia" (com o passar dos dias). Agora o hífen desapareceu.

Erros de ortografia são bem raros nos textos que eu corrijo. Na última tese que revisei havia apenas dois. Uma mixaria. Em compensação, havia mais de trezentas ocorrências que iam de encontro aos preceitos do português padrão escrito. Que também é arbitrário, é bom lembrar. No entanto, o grande problema é que boa parte dos acadêmicos, independentemente da área, escreve muito pouco e lê quase nada durante a graduação. Aí não tem "corretor ortográfico" que resolva.

Adilson Alves é professor.

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