Mais uma vez procuro socorrer dois ou três leitores. A questão é a seguinte: qual é a diferença entre "à-toa" (com hífen) e "à toa" (sem hífen)?
Primeiro vamos ver a locução "à-toa". Com hífen, essa locução funciona como adjetivo e tem sentido pejorativo: sem moral, sem valor, desprezível. Quando falamos que fulano é à-toa, estamos desqualificando e muito a pessoa. Claro: dependendo do contexto, pode ser um elogio. Por exemplo: "Você é à-toa mesmo! Já trocou de carro?" Na verdade, estamos falando que nosso colega é bem esperto. O importante é notarmos que à-toa tem como função caracterizar algo ou alguém: cara à-toa, serviço à-toa, pessoas à-toa, trabalhos à-toa etc.
A locução "à toa" (sem hífen) significa estar sem rumo, sem fazer nada, sem motivo, inutilmente. Vejamos estes versos da música A banda, de Chico Buarque: "Estava à toa na vida/ O meu amor me chamou". Ou seja: o cara estava sem fazer nada e foi ver a banda. No xote "Rindo à toa", do grupo Falamansa, temos: "mas eu tô rindo à toa/ não que a vida seja assim tão boa". Isto é: rindo sem motivos ou sem tantos motivos assim.
Às vezes, uma pessoa à-toa ri à toa ou chora à toa. Também vale para uma pessoa cheia de qualidades, que pode rir à toa ou chorar à toa. São coisas da vida.
O uso trocado dessas locuções em um texto escrito dificilmente provoca interpretação inadequada, pois o contexto em que elas ocorrem permite assimilação do sentido desejado. Mas é bom ficar atento e evitar piadas e canetaços.
Na fala, sempre temos clareza do uso dessas locuções. É lógico: ambas são pronunciadas da mesma forma. Isso não impede que algumas pessoas inventem moda. Um colega de faculdade pronunciava "à toa" com o dobro de tempo de "à-toa". Era assim que ele marcava o hífen. Fora isso, ele era um sujeito bem bacana.
Adilson Alves é professor.
