Possivelmente, todos nós já tivemos um frio na barriga diante de um desses verbos terminados em "-iar"
Há um item no Acordo Ortográfico que, mais que tantos outros, merece uma atenção especial. Trata-se da variação da conjugação de verbos terminados em "-iar", provenientes de substantivos terminados em "-ia" ou "-io" átonos. Vamos analisar essa questão com calma, tomando o verbo "negociar" como exemplo.
Primeiro: esse verbo termina em "-iar". Segundo: ele provém do substantivo "negócio", que termina em "-io". Terceiro: o "-io" é átono. Notem que o acento tônico está em "gó" neGÓcio. Portanto, temos um verbo que satisfaz todos os critérios. Daí que, conforme determina o Acordo, tanto faz escrever "eu negocio" ou "eu negoceio". Podemos variar em "io" ou em "eio".
Vejamos mais alguns verbos para sentir "no ouvido": premiar (de prêmio) = eu premio ou eu premeio; odiar (de ódio) = eu odio ou eu odeio; incendiar (de incêndio) = eu incendio ou eu incendeio; influenciar (de influência) = eu influencio ou eu influenceio; caluniar (de calúnia) = eu calunio ou eu caluneio.
A conjugação dos verbos terminados em "-iar" sempre foi marcada pela variação. Tornou-se consenso escrevermos "eu odeio", "ela odeia", e jamais eu "odio". Da mesma forma, a norma culta escrita nos manda usar "eu influencio" e não "eu influenceio". Possivelmente, todos nós já tivemos um frio na barriga diante de um desses verbos: "Como que é mesmo?" Na oralidade, a conjugação varia muito mais. Quem nunca ouviu um "eu odio"?
Quando temos palavras que "flutuam" (podem ser de um jeito ou de outro), é comum adotarmos apenas uma forma, normalmente a já consagrada pela norma escrita. Tudo indica que os jornais, as escolas, as revistas etc. vão continuar com o "eu premio" em vem vez do "eu premeio".
De todo modo, surgiu a possibilidade de soltarmos aquele "Todo dia eu presenceio essa bagunça e já não agüento mais".
Adilson Alves é professor.



