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Uma matéria sobre os atrativos da carreira pública finalizava com esta informação sobre o concurso do INSS: "Os candidatos que ainda não se inscreveram poderão FAZÊ-LO até amanhã". O destaque em caixa alta (FAZÊ-LO) não estava no original.

Na construção realçada, temos o uso de um verbo vicário, o verbo "fazer", que é bastante produtivo nessa função. Em seu Dicionário de dificuldades da língua portuguesa, Domingos Paschoal Cegalla anota: "Usa-se fazer como verbo vicário (substituto) para evitar a repetição de outro verbo expresso anteriormente".

Como se depreende, a definição de vicário é simples: substituto. Evidentemente, não apenas o verbo "fazer" desempenha essa função, mas também pronomes, as formas de tratamentos, diversos advérbios, outros verbos etc. Ademais, a noção de vicário se estende para outros campos que não a gramática.

Mas fiquemos somente com esse verbo.

Na construção da matéria, evita-se a repetição de "se inscrever": "Os candidatos que ainda não SE INSCREVERAM poderão SE INSCREVER até amanhã". Nesta de Moacir Scliar (citada por Cegalla), troca-se "plantam" por "o fazem": "Caçam e pescam e, se plantam, o fazem de forma primitiva". O caminho sem a substituição seria este: "Caçam e pescam e, se PLANTAM, PLANTAM de forma primitiva".

Não se trata de certo ou errado, mas de opção por uma forma de coesão que dá um certo charme (no meu ponto de vista) ao texto e demonstra que quem escreve domina um bom recurso da língua escrita. Obviamente, o uso excessivo funciona ao contrário; passa a imagem de um redator que conhece pouco e por isso fica agarrado a fórmulas, a macetes. Em miúdos: o tiro sai pela culatra.

Finalizo com esta passagem de Terras do Sem Fim, de Jorge Amado, também citada por Cegalla: "O Dr. Genaro apenas sorriu e dava a impressão de que o fazia por pura cortesia".

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