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Minha coluna anterior ("Neymar, o supercraque desumilde") levou um leitor a me fazer a seguinte pergunta (ou uma saudável provocação): o fato de alguém usar a palavra "desumilde" não revela pobreza de vocabulário?

De jeito nenhum e no contexto mencionado muito menos. Recordando: falávamos de uma enquete feita por um programa da Record sobre o comportamento de Neymar. Quem já foi abordado por um repórter para dar opinião sobre algum assunto sabe que a coisa não é tão fácil assim. Trata-se de uma situação nada comum na rotina da maioria de nós. Quantas vezes você foi entrevistado hoje? Algumas pessoas têm um branco, as melhores palavras desaparecem e só voltam cinco anos depois. Mas, como se trata de uma enquete, podemos nos sair muito bem com poucas palavras. Vejam só: caso se tratasse de uma entrevista com um especialista em comportamento de neofamosos, certamente era de se esperar um vocabulário mais especializado. Só que estamos falando de uma enquete.

É claro que o entrevistado podia ter recorrido a uma centena de palavras ou expressões para emitir seu julgamento: esnobe, orgulhoso, soberbo, metido, tá se achando, tá com o rei na barriga, pensa que é o tal, tá pisando na bola. Mas mandou a palavra "desumilde", pondo em ação um processo produtivo e legítimo de formação de novas palavras do nosso idioma. Como sabemos, a palavra é dicionarizada, mas imagino, me baseando em toda a entrevista, que ele não soubesse disso. E aí a coisa fica mais interessante porque flagra o momento em que alguém lança mão de seu conhecimento implícito da língua para se comunicar. Mesmo se a palavra não constasse em dicionários, o entrevistado teria demonstrado criatividade e não pobreza vocabular.

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