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É forte a crença de muitas pessoas de que a variação linguística existente no Brasil se deve à baixa escolaridade da maioria dos brasileiros. Não faz tempo, um leitor afirmou que explicações sobre concordâncias, flexões e regências comuns à fala de pessoas com baixa escolaridade não passam de "ginástica mental". O que falta é estudo. Por trás desse disparate, está a ideia de que variação é sinônimo de falares populares em oposição a uma fala-padrão seguida à risca pelas pessoas estudadas.

Com efeito, diversas pesquisas mostram que pessoas de nível universitário, quando estão em situações mais monitoradas (uma entrevista, por exemplo), procuram seguir as marcas de concordância verbal e nominal de acordo com as lições dos instrumentos normativos. Isso está amplamente documentado e comprovado pelo Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta no Brasil (Projeto NURC).

Por outro lado, também está provado que esses mesmos falantes afrouxam a língua quando estão em situações informais. Aí os sss vão por goela abaixo, o cujo desaparece, pronomes átonos abrem frases, o nós e a gente se alternam como técnicos de certos times e o relativo QUE se torna absoluto: (Essa é obra QUE eu mais gosto, Ele é o cantor QUE as músicas mais me tocam). Sem esquecer do "Tu não vai no jogo hoje".

Disso podemos tirar uma lição bem elementar: variação linguística tem a ver com variação de situação de uso da língua.

Se Willian Bonner, uma pessoa com excelente domínio de registros cultos, passasse a vida na bancada do JN, dificilmente diria novamente "O jogador da seleção QUE a mãe queria longe dos campos". Mas a vida vai além das bancadas e das lições dos alfarrábios. E a língua sempre vai junto.

Só para documentar: edição do Jornal Nacional do dia 18 de maio de 2010. Às 20 horas e 27 minutos no meu relógio. Mas variações de segundos devem ser consideradas.

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