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Como será o Brasil daqui a 100 anos? Pensar, ao contrário do almoço, é grátis. Nessa função de Nostradamus de almanaque, comecemos pelo geral. Por exemplo: será o Brasil um país do Primeiro Mundo, renda per capita da Suíça e contraste social da Suécia? Índices de homicídios de uma Islândia, prêmios da ONU ao ensino fundamental, transporte urbano impecável, acesso universal às creches? Eleições regulares e um tantinho entediantes, com debates sobre se a Universidade Indígena da Amazônia deve ou não exportar os produtos medicinais de suas pesquisas de ponta ou se as bibliotecas das quatro penitenciárias federais podem receber mais verbas para livros digitais, como exigem os presidiários?

Tópico acalorado de campanha eleitoral: como recuperar a indústria de fechaduras, à beira da bancarrota, e para onde relocar o contingente de funcionários da segurança privada, já sem função há alguns anos? E, enfim, o Congresso Nacional deveria manter o número de 120 deputados e 27 senadores ou deveria tornar-se unicameral? E os royalties do excedente de água do antigo Polígono das Secas devem ficar no Nordeste ou ser divididos entre todos?

Nem o mais delirante sonhador imagina que um dia chegaremos perto disso. Esta imagem utópica final talvez seja apenas a clássica formulação europeia de bem-estar para todos, transplantada para nós como um mundo irreal sem conflitos que pensa na fruta edênica a colher da árvore, mas não na semente e na chatice da espera. As ideias podem criar condições para mudar o mundo, mas muito frequentemente são as condições que criam as ideias, e o Brasil está sempre indeciso entre um ovo maravilhoso e uma galinha indócil.

As forças do capital e do Estado estão tão entrelaçadas entre nós (aqui o Estado é de uso privativo) que o que nos redime é a miragem de um governo benevolente que, por sua organização científica, pelo tirocínio de seus dirigentes, pelo poder vertical da ciência política, pelo espírito positivo e inquebrantável honestidade, dará gratuitamente a cada cidadão aquilo a que ele tem direito. Esse fortíssimo apelo estatizante não foi inventado pelo PT (nem pelo Lula, que inventou tudo, exceto algo novo) – é uma cultura que está na raiz da nação desde os tempos de colônia, inoculado na alma de cada brasileiro, e permeou toda a lógica do nosso desenvolvimento.

Não há nada de "esquerda" nisso – é uma ideia que une o imperador Pedro II, que amava os escravos; Getúlio Vargas, o pai dos pobres; o ditador Ernesto Geisel; e, digamos, Dilma Rousseff, a da eterna "bolsa Brasil". Na prática, o resultado é um elefante gigantesco, imóvel e voraz que, tomando a nação para si, só consegue realizar "diretrizes de Estado", numa prancheta fora de lugar. A tentativa de criar, numa canetada, dois anos de trabalhos forçados aos formandos de Medicina é mais uma dessas soluções "científicas".

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