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Acordando esta semana com outra crise de imaginação, em busca de um bom assunto para a coluna e já em desespero de causa – com tanta coisa acontecendo no bairro, na cidade, no Paraná, no Brasil, no mundo, e até mesmo aqui em casa, e eu panaca comendo mosca –, tentei imaginar o que a presidente Dilma faria numa situação dessas: falta crônica de crônica. Ora, é fácil: criaria um novo ministério, o Ministério das Crônicas das Terças-Feiras.

Fascinado pela solução, imediatamente me tranquei no escritório, depois de pendurar na porta a devida placa, exigindo silêncio e direito à concentração: Ministro das Crônicas das Terças-Feiras. Coloquei minha fotografia sorridente ao lado, com a faixa verde-amarela no peito: CRONISTA. E me toquei a planejar o ministério, começando pela assessoria. Senti a volúpia nacional burocrático-organizadora. Agora vai! Eu precisaria dividir o ministério em vários centros temáticos, classificando-os por setores – crônicas políticas, crônicas sobre animais de estimação, crônicas literárias (com a subdivisão entre ficção e não ficção), e um puxadinho para os "achados poéticos", e mais as crônicas genéricas: as nostálgicas, as agressivas, as repetitivas, as sobre o trem-bala e as mal escritas.

Em pouco tempo percebi que a divisão iria longe, como o célebre mapa de Borges, que tinha o tamanho da Terra, e parei por aí. De qualquer forma, precisaria de um coordenador-geral, ou chefe de gabinete, que receberia as sugestões, escolheria as melhores e encaminharia ao ministro, que sou eu. E é claro que eu teria de contar com um setor atilado de Revisão de Crônicas, além de outro puxadinho, igualmente relevante, que daria o Parecer de Constitucionalidade, ou seja, a taxa de risco de eu ser processado por leitores, bancos, deputados, pastores, supermercados, vizinhos e companhias telefônicas. Mas eu precisaria também terceirizar alguns textos, pois cronistas viajam muito – a nomeação de um vice-cronista seria uma boa ideia, desde que ele se afinasse com, digamos, a filosofia das Crônicas das Terças-Feiras (um subsetor da revisão de conteúdos daria conta disso).

E como quem não se comunica se trumbica, imaginei uma assessoria de imprensa que, em entrevistas coletivas, explicaria em detalhes as Crônicas das Terças-Feiras. Além de dirimir dúvidas, fazer recall de concordância, regência e adequação lexical, a assessoria ressaltará as vantagens do texto, a economia ecológica de meios – nunca mais de 2.899 toques! (um Setor de Controle de Digitação não seria má ideia) – e a importância da conversa fiada na vida do cidadão, uma função típica de Estado. Afinal, todos precisamos relaxar.

Mãos na nuca, sonhador, olho o teto do escritório, inebriado pelo sucesso do ministério, o azáfama dos funcionários, o telefone incansável, até acordar e conferir o relógio: estou atrasado. Hoje vai essa mesmo.

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