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A família Derrier começou a fabricar papel higiênico na França. Ao se refugiar no Brasil, depois de uma desastrada aventura amorosa, o parisiense Henri Derrier conheceu o visionário escritor Monteiro Lobato e ficou entusiasmado com a ideia de montar uma fábrica de pó de banana em Morretes. O projeto não era novo, mas mesmo assim ele remontou a máquina projetada por Lobato e botou pra funcionar a traquitana em Porto de Cima, local de grande atividade bananeira. Dizia-se então em Antonina: “Onde já se viu, pó de banana? Se fosse cachaça em pó o produto não encalharia na prateleira!”

Desanimado, Derrier partiu para novos negócios. Em Marechal Mallet, região de colonização eslava, montou uma fábrica de pierogi em conserva. A ideia era original, o mercado abundante, tinha tudo para dar certo, mas não deu. O erro mercadológico estava na receita com produtos franceses: o Pierogi Derrier era feito de farinha de trigo, queijo Camembert e batatas, cozidos no leite, ao molho de manteiga, trufas, foie gras e mostarda Dijon.

Como dizia o Barão de Itararé, ”no Brasil a vida pública é a continuação da privada”!

De Marechal Mallet, cheio de dívidas, Henri Derrier voltou às origens familiares com uma fábrica de papel higiênico em Curitiba, e assim tocou a vida. Uma vida que sempre foi um inferno graças à inflação e aos sucessivos planos econômicos que não deixavam nem mesmo um fabricante de papel higiênico fazer suas necessidades em paz. Indignado com a praga de impostos e a moléstia da corrupção, Henri foi morar em Guaratuba e passou o papel higiênico para seu filho único, de nome Furibundo Derrier.

Casado com dona Pureza, de tradicional família da Lapa, Furibundo tem quatro filhos: Nauseabundo Derrier trabalha na fábrica; Meditabundo Derrier é advogado; Moribundo Derrier, coitado, é professor; e Vagabundo Derrier é poeta, escritor e compositor, pessoa física dependente da Lei Rouanet. Com tal currículo, Vagabundo até já incursionou pelo jornalismo, mas pediu demissão depois de passar um mês cobrindo as latrinas da Assembleia Legislativa.

Sem nenhum preconceito com a imprensa, sempre que Nauseabundo abre um jornal ou uma revista, o comentário é insopitável: “Isso está me cheirando mal! O fedor da corrupção ainda vai acordar este gigante adormecido”. Na grande marcha dos professores, os Derrier foram vistos distribuindo toneladas de papel higiênico no Centro Cívico: “Alguém neste país precisa atender as primeiras necessidades do poder!”, bradavam eles.

“O país está apodrecido!”, disse Nauseabundo, antes de começar a vomitar o almoço de domingo com a família. E caiu estatelado no tapete com o jornal nas mãos. O irmão Moribundo veio acudir, dona Pureza correu na cozinha para fazer um chá de camomila e, rápido, Doutor Furibundo passou a mão no jornal para descobrir a causa de tamanho estrago intestinal.“É a entrevista da Dilma Rousseff!”, acalmou a todos o patriarca. “Será o caso de levar o Nauseabundo pra um hospital?”, interveio o Moribundo. “Realmente, o caso é de internação!”, completou o chefe da família.

O enojado não foi para o hospital, graças ao chá de camomila de dona Pureza, santo remédio com receita da Lapa. Assim que Nauseabundo se botou de pé, Furibundo ordenou: “Filho, passa lá na fábrica e manda urgente uma tonelada de papel higiênico para a marcha de domingo! E tudo de graça!” “De graça?”

“De graça! Porque alguém nesse país precisa atender as primeiras necessidades de um povo revoltado. Como dizia o Barão de Itararé, ‘no Brasil a vida pública é a continuação da privada’!”

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