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Com o fim do subsídio estadual para o transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana, está traçada a primeira linha do metrô: sem sair do Centro Cívico, começaram a cavar um buraco entre a Prefeitura e o Palácio Iguaçu. Agora resta ao prefeito Gustavo Fruet perguntar aos curitibanos e seus vizinhos: eles são contra, a favor ou muito pelo contrário?

No livro Meus vizinhos italianos, o escritor inglês Tim Parks faz uma deliciosa caricatura da Itália, com um sabor especial para os brasileiros: somos parecidos até na aplicação das leis, pois sempre há um "jeitinho italiano" de burlá-las. Existem as leis que pegam e as que não pegam. Se há uma coisa que os italianos respeitam é a lei em si, a qual é uma coisa boa e constitui a resposta certa para qualquer problema que ela pretenda solucionar. O que os italianos não suportam é a aplicação da lei. Do mesmo modo que é certo para o papa insistir na castidade, desde que cada um faça como melhor entender. Na sociedade anárquica modelar da península existe um sem-número de leis cujo valor nunca será questionado. E, sob esse disfarce, todos vivem como acham que devem viver.

Discreto, Válido, Relativo: essa a fórmula italiana para discutir qualquer coisa. Uma das satisfações do italiano é achar que, com essas três palavras, ele fez uma análise acurada da situação, apreendeu suas ironias, avaliou os prós e os contras e concluiu como um analista astuto, observando todo o espetáculo a distância.

E essa fórmula pode ser aplicada em qualquer discurso. Sobre dirigir bêbado, por exemplo, italianos ou brasileiros responderiam assim: "Sem dúvida, a lei sobre dirigir embriagado, elaborada discretamente (ou seja, com pouco rigor), na verdade é na maior parte válida (sensata), mas tudo isso é relativo (de importância circunstancial), já que os instrumentos para a aplicação da lei não estão disponíveis ou, se estão, ninguém tem intenção de usá-los com rigor".

Quanto ao metrô, o curitibano de Santa Felicidade responderia assim: "Sem dúvida, o projeto do metrô vai atender à demanda na região que mais cresce na cidade. Porém, é acanhado quanto ao buraco de apenas 7,5 quilômetros de extensão desde o Pinheirinho até a Praça do Japão. Para o porte da cidade, digamos que é discreto. Com os recursos já disponibilizados pelo governo federal, mesmo contando com certo atraso no início das obras, é válido estudar outras propostas construtivas. Mas tudo isso é relativo, considerando que no fim das contas ainda precisamos decidir o tamanho do buraco onde vamos enterrar o cofre da prefeitura".

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