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Numa cidade onde os artistas se tornam invisíveis, Napoléon Potyguara Lazzarotto – que neste 29 de março faria 90 anos – é o artista mais visível de Curitiba. Faz-se presente de norte a sul e de leste a oeste, no mapa urbano. Está no aeroporto, no mercado, no parque, na praça e no monumento à história. Faz sentido quando forasteiros de olhos desacostumados dizem que Curitiba é a Potylândia.

Para o indivíduo, a cidade é um exagero. Ideal é aquela desenhada na palma da mão. Na cartografia humana, o que nos guia na cidade que a gente habita é o mapa afetivo de uma cidade diversa contida nela mesma. O mapa-múndi de Poty era bem reduzido: Paris, Rio de Janeiro, Curitiba e o bairro do Cajuru, cujos mapas ele traçava na palma da mão.

Quando Poty morava no Rio de Janeiro, o advogado Luiz de Araújo Silva veio conhecer Curitiba em viagem de turismo. Para não cair nas tentações do espeto corrido, o amigo carioca pediu, então, os rumos do bom e do melhor da cidade, mais as coordenadas para conhecer as obras espalhadas na Potylândia. O ilustrador de Guimarães Rosa desenhou, então, o seu próprio mapa de Curitiba, com desenhos a bico de pena servindo de referências para conhecer a Potylândia a pé.

Foi em 1984. Certa noite, no Bar e Restaurante Palácio, Luiz Araújo e a esposa estavam consultando o mapa afetivo de Poty, quando da mesa ao lado perguntamos a origem do inusitado mapa: "Ganhamos do amigo Poty, para nos orientar na cidade!", respondeu o advogado do artista. Mais do que depressa, pedi licença para fotografar a obra na redação do jornal Correio de Notícias, que ficava a poucas quadras dali. Assim foi feito. Dias depois, o mapa foi estampado no jornal, contando a história de um carioca que conheceu Curitiba através dos traços de Poty. Na cartografia do artista, Curitiba cabia num espaço em papel Canson de 40x70cm. Hoje ela se fez um exagero.

Naquele mapa afetivo, recuperamos o que tínhamos na palma da mão, com especial destaque ao legendário Vagão do Armistício – a cantina feita um vagão com o teto abaulado, onde Poty desenhou todo o seu afeto pela estrada de ferro. O Vagão do Armistício não tinha placa, nunca foi registrado e lá o risoto era servido sob encomenda. Dona Júlia, mãe do artista, temperava o risoto de uma forma muito própria: "Para medir a quantidade de sal, ou outro tempero, ela colocava um pouco na palma da mão e dava uma raspada com a palma da outra mão e pimba! O que caísse na panela era a quantidade certa para dar o sabor".

Amanhã, no restaurante do Passeio Público, às 13 horas em ponto, a chef Helena Menezes vai abrir as panelas e relembrar o tempero da dona Júlia no "Risoto do Armistício": um encontro marcado para serenar os ânimos, brindar a amizade em torno de uma boa mesa e comemorar o aniversário da Potylândia com o espírito de uma cidade temperada na palma da mão.

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