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Em 2012, dois candidatos a prefeito de Curitiba se comprometeram a estudar propostas de mudanças na Lei de Zoneamento, abrindo então os debates sobre o adensamento populacional. Verticalizar ou horizontalizar, eis a questão. O que é preferível: viver, trabalhar e ter serviços na porta de casa, ou viver entre o trabalho e a porta de casa, pela carência de transporte público?

Na metamorfose urbana da década de 1970, a solução encontrada pelo arquiteto Rafael Dely foi a linearização. O crescimento em direção às estruturais. De um modo linear, serviços se aproximando dos bairros, com moradia e trabalho mais próximos. Daí que surgiram as vias trinárias, com o expresso no meio, concepção de Rafael Dely que desmonta a demagogia de que os nossos urbanistas teriam esquecido os bairros: "Todas as obras que projetaram Curitiba internacionalmente nada ou muito pouco têm a ver com o Centro!", respondia Dely, o prefeito que deveria ter sido.

Quando a moeda de troca é o voto e a estratégia dos mercadores da miséria é dominar a cidades através do conflito – bairro versus Centro –, para simplificar o zoneamento seria preferível dividir a população em duas, com o propósito de cumprir as promessas de inclusão social: a classe D viria para o Batel e a classe A seria alojada intramuros, nos condomínios de luxo da periferia.

Simples assim, o novo zoneamento contemplaria o Alto da Glória para os coxas; o pátio da Rodoferroviária estaria de bom tamanho para os paranistas; e todas as edificações do Água Verde teriam o potencial construtivo reservado para pagar as dívidas do Furacão.

No tocante à gastronomia, o zoneamento seria o de sempre: polenta com galinha na Avenida Manoel Ribas; frutos do mar na Rua Mateus Leme; espeto corrido na Avenida das Torres; bolinho de carne e rolmops na Rua Itupava; pernil com queijo na Rua das Flores; carne de onça no Largo da Ordem; bucho à milanesa na Avenida Erasto Gaertner; e cachorro-quente na Rua Carlos de Carvalho.

Por certo muitos iriam dizer que, assim apetecível, o Plano Diretor da cidade ficaria uma verdadeira zona. Até pode ser, todavia não devemos confundir zona com zoneamento. No tempo em que Getúlio Vargas vinha a Curitiba só para visitar a famosa Zona da Otília, a cidade era dividida em várias zonas: a Zona do Quatro Bicos; a Zona da Albertina; a Zona da Dinorá; a Zona do Burro Brabo; a Zona da Maria Sem Calça e a Zona da Ávila, que era prima do Jânio Quadros. Depois é que inventaram esse tal de zoneamento, quando todas as zonas da cidade foram concentradas na Zona do Parolin. E, assim, deu no que deu. Conforme a cara do freguês, houve um tempo que o Plano Diretor era uma verdadeira casa de tolerância.

Entre as suas piores qualidades, um dos melhores defeitos de Curitiba é a sua proximidade com São Paulo. Chegaremos lá?

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