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O Brasil acaba de entrar no rol da pesquisa de ponta em escala mundial. Na semana passada, o carioca Artur Avila recebeu a Medalha Fields, considerada o Nobel da matemática. A despeito desse êxito individual, os estudantes brasileiros em geral continuam a ter um fraco desempenho nos testes de cálculo. Num ranking de 44 nações que se submetem ao Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o país ocupa uma modestíssima 38.ª posição. Além do necessário investimento em educação básica, talvez seja preciso romper com a ideia de que a disciplina é entediante e distante do cotidiano. Nada mais equivocado, desde que haja algum empenho em ensiná-la de forma diferente do convencional. Pode-se dizer, aliás, que o livro da natureza foi escrito em números e que a linguagem para compreendê-lo é a matemática. E que nela até há beleza, poesia e ritmo.

Historicamente, foi por meio da música que a matemática passou a ser associada à estética e ao belo – algo que parece estar um pouco esquecido na atualidade. Cinco séculos antes de Cristo, moradores da colônia grega de Crotona, no Sul da Itália, observaram haver uma relação objetiva entre intervalos musicais e proporções numéricas simples. A escala musical, que nasceu dessa descoberta, explicava por que alguns sons são agradáveis e outros não. Havia uma novidade incrível nisso: uma sensação humana podia ser descrita em números. A mente podia ser investigada objetivamente.

Aqueles gregos – que seguiam os ensinamentos de Pitágoras (o mesmo do teorema) – também rapidamente associaram a matemática a um conhecimento superior. É que a música era um elemento importante em rituais religiosos para levar ao êxtase e, consequentemente, para promover uma ligação com o divino – o detentor do verdadeiro conhecimento.

Havia ainda outro elemento que reforçava o caráter místico dos números. O céu, a morada dos deuses, também obedece a uma harmonia que pode ser descrita matematicamente. E os pitagóricos, como ficaram conhecidos, acreditavam inclusive que o giro dos astros na esfera celeste emitiria uma melodia, audível apenas aos iniciados.

Havia obviamente muito misticismo e poesia na forma como a escola de Pitágoras via a matemática. O som das esferas celestes nunca existiu. Mas religião e arte foram motores importantes para saciar a ânsia genuína de conhecer e domar a natureza pela força silenciosa dos números. Dois mil e quinhentos anos depois, os cálculos seguem erguendo a civilização. Mas parece que os números ficaram mais frios e distantes. Talvez seja preciso resgatar um pouco da música e da estética no ensino da matemática. Afinal, todos gostam do que é belo.

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