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O Brasil está menos verde e amarelo desde a última sexta-feira. A eliminação da seleção na Copa do Mundo condenou bandeiras, bonés, camisetas e outros adereços nacionalistas ao ostracismo dentro dos armários de nossas casas até 2014. A perda do jogo para a Holanda também teve o efeito de arrefecer o sentimento cívico que toma conta do país a cada quatro anos e que raramente se vê em outras ocasiões. Não deveria ser assim.

Parece que depositamos quase toda a estima que nutrimos pela nação em um campeonato de futebol, que dura um único mês. Mas o que efetivamente fica quando o capitão da seleção ergue a taça ou ao sair do campo de cabeça baixa após a eliminação é apenas uma emoção: de alegria, orgulho ou frustração. Uma emoção tão efêmera quanto a cerração que se dissipa à medida que o sol vai se erguendo no céu do inverno.

Esse sentimento tampouco tem algum efeito prático no nosso dia a dia: não melhoramos como país ao ganhar uma Copa. Continuamos campeões do mundo em acidentes de trânsito. Seguimos no alto da lista das nações mais desiguais do planeta. Não conseguimos equacionar os graves problemas de segurança que nos acomete.

Sem querer desmerecer a importância simbólica e emotiva de uma Copa do Mundo para nós brasileiros, é forçoso afirmar que é muito pouco deixar para manifestar o bem-querer pelo país apenas nesses períodos. Isso pode ser feito no dia a dia, em pequenas atitudes: não jogar lixo nas ruas, respeitar as leis de trânsito, não furar filas, não dar o famoso "carteiraço" para obter privilégios, se informar sobre os políticos em que vai votar para dar cartão vermelho àqueles envolvidos em denúncias de corrupção.

Cada gesto desses é como um gol a favor do civismo. É uma declaração de respeito pelos demais cidadãos. É uma ode à ideia de nação, a um novo nacionalismo. O que é a nação, afinal, senão a soma de todos os cidadãos?

Esse novo nacionalismo é diferente daquele a que estamos acostumados – menos emotivo, mais pragmático. O nacionalismo tradicional é voltado para fora. Une a nação em torno do combate a um inimigo externo, imaginário ou real. No caso da Copa, é a seleção adversária. Pode ser o exército de outro país quando o sentimento de amor ao país se transforma em sua variante mais perigosa, o militarismo. Como está voltado para o exterior, costuma fechar os olhos para si próprio, para os próprios defeitos.

Já o novo nacionalismo é orientado para dentro. Não nega as deficiências do país. Ao contrário, as reconhece e as elege como adversárias a serem vencidas em prol da sociedade. Por isso mesmo, essa modalidade de civismo é muito mais prática.

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