• Carregando...

O sujeito entrou na loja de roupas masculinas determinado. Foi direto ao vendedor e apontou para a vitrine com a ênfase dos que não titubeiam. "Por favor, gostaria de provar um modelo igual àquele, na mesma cor", pediu ao funcionário do estabelecimento.

Do outro lado do balcão, o vendedor, solícito, tratou de calcular o possível tamanho que o cliente usaria, antes de subir a escadinha para buscar o requerido produto na prateleira – uma série de compartimentos que se estendia de uma ponta a outra da parede com camisas, jaquetas de couro, suéteres, calças, cintos, casacos, gravatas de estampas de todos os gostos, malhas... Tudo o que um homem elegante poderia trajar.

Procura, procura, até encontrar justamente no fim da última pilha a peça no tamanho e na estampa que o cliente queria. O vendedor tira as tachinhas que mantêm a peça impecavelmente dobrada, a estende no balcão e depois a entrega ao cliente para que a prove e a aprove.

Antes de se encaminhar ao provador, nosso protagonista se atém aos detalhes da peça. Verifica o quão macio é o tecido, os pormenores da estampa, sem contar o cheiro – sempre tivera uma certa obsessão pelo odor de roupa nova, recém-saída da embalagem.

De tanta ansiedade, o cliente nem sequer fecha a cortina do provador. Testa o caimento da peça em cima mesmo da roupa que veste. Passa alguns minutos de completo deslumbre em frente do espelho, abduzido pelas imagens dos bons momentos que viverá em breve vestido naquele roupão de pura seda, liso como a pele de bebê, refrescante como o mergulho em uma piscina em um dia tórrido.

"O roupão perfeito, para o momento propício", deixa escapar enquanto seguia no transe causado pela própria imagem refletida.

A frase não fugiu ao ouvido do vendedor. "Mas o que será que esse homem vai comemorar com este roupão tão caro?", perguntava a si mesmo.

Pela idade do cliente, ali pela casa dos 60 e poucos, o funcionário do estabelecimento imaginou que o roupão seria para festejar algo importante no casamento, um episódio romântico e decisivo da vida a dois – o início de namoro ou uma das tantas bodas com as quais se reafirmam o compromisso matrimonial. Quiçá o destino do roupão seria um hotel de luxo em Paris ou Florença, cidades tão propícias à renovação do amor.

Vencido pela curiosidade, o vendedor, sempre reservado em anos de profissão, deixou a discrição de lado para tentar sanar o mistério. "Desculpe a intromissão, senhor, mas o roupão é para comemorar alguma data especial com sua esposa?" No que o cliente mandou sem delongas: "Não, é para eu ver futebol em casa mesmo. Meu maço de cigarro cabe certinho nesse bolso".

Dê sua opinião

O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]