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Escrevi na semana passada que, embora o Muro de Berlim tenha caído há 20 anos, a visão bipolar da Guerra Fria ainda contamina o pensamento e a ação de muita gente nos quatro cantos do planeta.

A postura do MST, que defende abertamente uma revolução socialista, é um dos exemplos desse anacronismo – bem como a defesa que alguns fazem da ditadura de esquerda de Cuba ao mesmo tempo em que pedem democracia para Honduras, cujo golpe foi praticado pela direita. Ou então, do outro lado do espectro ideológico, também faz parte dessa visão de mundo as acusações que o presidente Barack Obama sofre da direita americana por querer implantar o que os conservadores radicais chamam de socialismo – quando ele, na verdade, apenas quer fazer algumas reformas sociais nos Estados Unidos.

Tudo isso são mostras de um comportamento pautado pelo paradigma que dividiu o mundo entre comunismo e capitalismo e que tem data para acabar: quando as gerações que viveram a Guerra Fria morrerem. Afinal, o capitalismo é um fato consumado, apesar de existirem ainda alguns países periféricos que resistem a admitir isso.

O problema é que esse debate fora de época dispersa outra discussão, esta sim na agenda do século 21: como defender as democracias em um mundo dividido entre regimes democráticos e ditaduras.

Quando o Muro de Berlim caiu e levou junto o comunismo, o teórico norte-americano Francis Fukuyama disse que a História tinha chegado ao fim. Para ele, o capitalismo e a democracia haviam triunfado e a humanidade atingira o ápice de sua organização social. Ele estava errado. Ou melhor, meio errado. O capitalismo, de fato, está por aí e ainda vai continuar por muito tempo. Mas a democracia não é exatamente uma unanimidade internacional.

O vertiginoso crescimento da China como potência econômica, após abandonar o comunismo, é uma mostra de que o capitalismo prescinde da democracia para existir. E o sucesso chinês pode seduzir outros países a adotarem o mesmo modelo de desenvolvimento.

Sob determinadas condições, o capitalismo pode se beneficiar muito do autoritarismo. Numa democracia, certas decisões governamentais que eventualmente venham a estimular a economia precisam ser amplamente discutidas com a sociedade para serem implantadas. Esse debate consome tempo e, por vezes, não se chega a um consenso.

Nos regimes autoritários é diferente: o ditador ou a burocracia estatal, que pode ou não estar associado a grupos empresariais, decide tudo numa canetada. Pode dar certo ou não. Tudo dependerá da competência técnica da decisão em si.

O problema é que os eventuais prejudicados não terão voz. E eles poderão ser muitos. É só numa democracia que essas vozes dissidentes têm sua vez e que, portanto, os frutos do desenvolvimento podem ser melhor partilhados com toda a sociedade. Por tudo isso, é preciso ficar alerta para a sedução do autoritarismo e esquecer da discussão entre socialismo e capitalismo.

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