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Existem duas maneiras clássicas de demonstração do civismo e do patriotismo. Uma é mais oficial, caracterizada pelo culto aos símbolos nacionais e às datas cívicas. O desfile do Sete de Setembro – com todo seu cerimonial de veneração da bandeira, do hino e das Forças Armadas – é o exemplo maior desse tipo de manifestação. Outra celebração do civismo, mais popular, é a torcida pelos atletas ou equipes brasileiras nas competições esportivas internacionais – cujo ápice é a Copa do Mundo.

Os dois modos de civismo têm um pai bem velinho: o nacionalismo. Essa ideologia germinou no século 19 e entrou com força no século 20. Caracteriza-se principalmente pelo sentimento de que há um outro que não pertence ao meu grupo – o estrangeiro.

Para o nacionalista, dependendo das circunstâncias, esse "forasteiro" pode ser um inimigo. Daí a valorização, como expressões cívicas, do militarismo e do esporte – o jogo não deixa de ser uma batalha sem armas. Não é preciso recordar que, levado ao extremo, o militarismo nacionalista conduziu o mundo a duas grandes guerras e que o esporte costuma ser usado como propaganda política.

Apesar disso, ambas maneiras de demonstrar o civismo atendem de forma simbólica à necessidade que cada pessoa tem de pertencer a uma comunidade e de se proteger contra a ameaça externa, real ou imaginária. Mas, ainda que possamos nos sentir bem ao celebrar os símbolos e as vitórias esportivas do país, essas duas facetas do civismo são vazias de efeito prático no dia a dia. O que ganhamos quando o capitão da seleção ergue a Copa do Mundo? Ou quando comparecemos ao desfile militar? Não seriam apenas alguns momentos efêmeros de prazer e de sentimento patriótico?

A boa notícia é que o Brasil está vendo nascer um novo tipo de civismo, mais pragmático, que pode mudar o país. Um civismo voltado para dentro, para a solução de nossos problemas; e não para fora, para vencer o "inimigo" externo. É o civismo cidadão.

Levantamento de opinião realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas, publicado nesta Gazeta do Povo na última segunda-feira, revelou que 59% dos curitibanos acreditam que o civismo é a defesa do interesse público e do bem-estar coletivo. Foram apenas 20% os que disseram ser a veneração dos símbolos nacionais; e 13% os que afirmaram ser a valorização dos talentos nacionais nos esportes e nas artes.

O resultado da pesquisa é uma luz no fim do túnel, em um país marcado pelo desprezo generalizado em relação ao que é público, principalmente da parte das autoridades. O surgimento desse novo civismo pode ser um importante fenômeno social para forçar nossos políticos a mudarem de postura.

Fernando Martins é jornalista

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