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Como diz o Beronha, fechando um prolongado suspiro, bons eram os tempos do Fantasma e do Tarzan, sem esquecer do Jim das Selvas. Muito mato, pouca gente e comunicação (a distância) só mediante o uso de tambores. Como não se tratava da festa japonesa dedicada aos espíritos da floresta, muito menos da bateria da Estação Primeira de Mangueira ou dos Fanáticos do Atlético, não havia tambores disponíveis para todo mundo. A maioria ficava naturalmente de fora, por um saudável (e não só para os ouvidos) processo seletivo. O mundo, assim, era mais silencioso – e habitável. Até porque os quadrinhos do Tarzan, Fantasma e companhia eram quietos e só erguiam o "som" por obra e graça das onomatopeias (Bang! Bumm! Pow! Capow!).

Natureza concorda com o nosso herói, ou anti-herói, sobre as doidices e doideiras de hoje.

– Vejam o caso do e-mail. Nunca tanta gente repassou para tanta gente tanta coisa dispensável. Pior. Pelo horário e o dia, constata-se facilmente o quanto estão fugindo do batente. Ou fingindo que trabalham. Às 15 horas de qualquer dia da semana, não sendo feriado, quem teria tempo para enviar ou repassar coisas do tipo "aproveite o momento e seja criativo no mercado", "parabéns, você ganhou um Rolex", "descubra os segredos para melhorar sua renda", "hello my dear old friend", "viagra – oferta imperdível", "lembra-se de mim? encontrei nossas fotos do último encontro"...

De fato. Nesses momentos há que se suspirar como o Beronha, lamentando a seminal iniciativa do primeiro humanoide mocorongo que decidiu abandonar a caverna e dar início à "civilização". Deveria ter se limitado à pintura rupestre.

Comunicação vale a pena?

– Tenho lá minhas dúvidas, diz Natureza, pensativo. Prestando-se apenas a dar curso a asneiras, idiotices e dissertações em torno do próprio umbigo, dá zebra. Basta ver a Torre de Babel...

Há exceções, mas o problema é ter saco para encontrá-las. Entre as exceções, uma é clássica. O compositor Lamartine Babo, o seu Lalá, rei do carnaval e autor de preciosidades como Linda Morena e O Teu Cabelo Não Nega, foi a uma agência dos Correios. Ao entregar o texto para o telegrama, percebeu que um dos funcionários batucava no balcão, com o lápis, uma mensagem para o colega de guichê, em código Morse:

– Magro e feio.

Lamartine foi rápido, recorrendo ao mesmo expediente com o seu lápis:

– Magro, feio e ex-telegrafista.

De volta ao Natureza. Ele desenvolveu uma teoria a partir da decantada ciclotimia do brasileiro, que viveria em extremos, da euforia à depressão, esta a popularmente chamada asa quebrada. Do vocábulo logos, que, como se sabe, significa princípio de inteligibilidade, chegou à logorreia. Isso mesmo, minha senhora, logorreia, a tal necessidade de falar sem parar, feito metralhadora.

– O mal de hoje, e em irrefreável processo de metástase, é a logorreia e-mailística.

Para ele, em matéria de troca de mensagens, não se inventou ainda nada melhor do que o carteiro. O máximo de ruído – ruído nos dois sentidos – que poderemos ter é o latido do cachorro.

Mas sem risco de spam – ou do nocauteante "travou!"

camargo@gazetadopovo.com.br

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