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Vou confessar uma esquisitice. Quando assisto a um filme estrangeiro com cenas gravadas nas ruas de grandes cidades, fico fascinada com as calçadas. Gosto de admirá-las e chego a esquecer do enredo. Lisinhas, retas, planas – em resumo, invejáveis. Veja (ou reveja) Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, do Woody Allen, por exemplo. Ele e a Diane Keaton têm longas discussões enquanto caminham pelas calçadas de Nova York. Nem por um minuto prestam atenção onde pisam, não tropeçam em pedras soltas, não dão saltos no ar por causa do relevo acidentado.

Será que o Woody Allen escolhe as locações para seus filmes pelas calçadas? Veja as de Londres em Match Point, as de Barcelona em Vicky Cristina Barcelona e as parisienses no encantador Meia Noite em Paris. Lindas!

Andaram falando que Woody Allen ia gravar seu próximo filme no Brasil. Ainda não foi desta vez. Ele escolheu Roma. Alguém deve tê-lo prevenido de que não seria fácil fazer os atores recitarem aquelas falas longuíssimas enquanto se equilibram sobre as desiguais calçadas brasileiras.

Sim, admito, leitor, que tenho o olhar viciado pela paisagem que me cerca. Daqui deste meu posto de observação, no Sul da América do Sul, vejo muita coisa ruim. Em uma mesma quadra, quatro diferentes tipos de calçamento, e um deles é uma graminha rala. E uma permanente inclinação do terreno em direção ao asfalto, o que faz com que o cidadão ande tombando de lado.

Alguns podem dizer que nossas calçadas são assim, tortinhas, por causa do relevo de Curitiba. Ou seja, vão culpar a natureza e, em última instância, Deus. Não me convenço. A ciência avançou tanto, inventamos coisas espantosas como o Facebook e o Viagra, e não conseguimos fazer uma calçada plana! Não me convencem.

Talvez o leitor esteja bem situado e veja nas ruas de sua cidade um calça­­mento bacana, bom de usar. Se for o caso, me escreva para contar. Tenho a maior curiosidade em conhecer cidades que já tenham superado esse problema e estejam em uma fase mais avançada do progresso.

Suspeito que, se o Woody Allen se decidisse a rodar um filme no Brasil, iria ao clichê: Rio de Janeiro, com seus calçadões à beira-mar. Além de planos, largos e elegantes com seus arranjos de pedras portuguesas pretas e brancas, vêm com o bônus da paisagem. É difícil competir com tudo isso. Ah, é verdade, de vez em quando uma tampa de bueiro voa pelos ares. Isso pode assustar o Woody Allen.

Nesse campo alguns de nossos vizinhos sul-americanos estão em vantagem. Montevidéu, Lima e Buenos Aires exibem calçadas bem resolvidas. Veja o caso de Buenos Aires, onde velhinhos pimpões andam para baixo e para cima no ritmo que lhes apraz sem se incomodarem com imprevistas mudanças de nível ou de piso. É verdade, em compensação eles têm a Cristina Kirchner. O mundo não é perfeito mesmo.

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