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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Creio que não há outra data que provoque mal-estar em tantas pessoas quanto o Natal. O que é, a princípio, estranho, por se tratar de uma festa que gira em torno de coisas boas: fraternidade, a magia da infância, alegria. Mas é também a festa das grandes expectativas, com um clima poderoso que vai tomando conta das cidades brasileiras, sem modéstia ou comedimento.

Por isso é tão fácil enxergar a alegria do Natal quanto a sua melancolia, porque não há nenhuma outra festa no Ocidente mais importante que esta. A data passou por uma transformação em que seus símbolos cresceram e o motivo original – o nascimento de Jesus Cristo – foi colocado em segundo plano. Me refiro ao Natal que se vê nos espaços públicos, no cinema, na tevê e na publicidade. Individualmente, o significado religioso da festa continua importante para muita gente.

A simbologia do Natal é explorada à exaustão e sustenta esse clima natalino – ou espírito natalino. Espírito que nem sempre é bonito, como mostrou Dickens no seu Conto de Natal. No texto do inglês o tal espírito surge bonito, mas vai se transformando em um monstro alimentado pelo ressentimento e pela solidão.

O clima natalino é poderoso. Se infiltra nas ruas e casas e, consequentemente, na vida das pessoas. Para alguns, essa onipresença, esse não ter para onde fugir, é irritante.

Já ouvi muitos dizerem que ficam deprimidos nesta época do ano. Lembram-se de grandes perdas, como a morte de uma pessoa querida ou um divórcio que separou pais e filhos. Às vezes o fato triste nem aconteceu nessa época do ano, mas é trazido de volta à memória pelo... espírito de Natal.

O Natal, por trazer tão fortemente essa ideia de alegria e harmonia, toca um nervo exposto, fere sensibilidades. Nossas vidas não são feitas só de alegria e harmonia. E nem são necessariamente os amargurados que sofrem nessa época do ano.

O fato é que há um universo de reações ao espírito de Natal, que vai dos que mergulham alegremente no clima da temporada, passa pelos que convivem com ele sem entusiasmo e sem dramas (o que inclui pessoas que não são cristãs) e chega até os que são completamente indiferentes e os que ficam deprimidos.

O leitor nem deve estar interessado em saber, mas me permito contar que me encaixo na categoria dos que convivem bem com o Natal. Vou com a correnteza, só não mergulho. A expectativa que o tal espírito natalino provoca me incomoda. Parece que somos levados a esperar momentos sublimes, inatingíveis. Por outro lado, lembro o tempo todo que se trata de uma festa religiosa e o desvio de rumo que ela tomou – quem vai negar que hoje é acima de tudo uma festa de consumo? – me causa desconforto.

Gosto de ver filmes no dia 25 e de música de Natal. Aliás, leitor, se tiver um tempinho, vá atrás de Frank Sinatra cantando Have Yourself a Merry Little Christmas ou de Michael Bublé e Santa Claus Is Coming To Town. Deliciosos!

Sou indiferente à comida, aos presentes e as festas muito planejadas – acho que é a improvisação acaba rendendo os momentos memoráveis. Pena que tenha tão pouca improvisação. O meu Natal dos sonhos seria um encontro improvisado, com presentes inventados com o que estiver à mão. Desculpem-me, comerciantes, mas nós temos 12 meses para comprar. Por que tanta urgência em dezembro?

Cada um a seu modo arranja um jeito de conviver com o espírito de Natal. Que para você e eu, leitor, ele se apresente manso e relaxado.

Bom Natal.

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