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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Quando adolescente, li uma observação que me chocou. Dizia o comentarista (que, in­­fe­­lizmente, não lembro quem era), que a espécie humana não evolui. Achei a declaração forte e triste. Cresci, passei a conviver com gerações bem mais antigas que a minha e outras tantas bem mais novas. E, voilá!, também passei a acreditar que o ser humano, como espécie inteligente, não evolui. E isso não me choca mais. Afinal, nascemos sempre zerados intelectualmente. Isso deve trazer alguma vantagem, mas exige uma paciência!

Como a transmissão da experiência e do conhecimento é missão dificílima, basicamente uma geração consegue passar para a próxima os conhecimentos técnicos e teóricos. Sobre as coisas que fariam diferença se nascêssemos sabendo, como os perigos que tendem a brotar de dentro das sociedades e o que conta de verdade para a felicidade humana, há muitos textos, muitos filmes, muitos quadros – sempre em tentativas de evitar a repetição dos erros. Alguns de nós vão atrás desses registros para aprender algo. Mas são apenas alguns. E mesmo eles vão conseguir aprender tão pouco...

As religiões tradicionais buscam reunir respostas, simplificá-las em fórmulas compreensíveis (como man­­damentos, por exemplo) e transmiti-las de geração para geração. É o mais concreto esforço da humanidade para evitar que os bebezinhos de 2011 cresçam tão selvagens quanto os seguidores do deus Thor que viveram numa aldeia germana. Acontece que o ser humano é inquiridor e malicioso. Pega lá uma regrinha simples, como "não mentir", e se põe a interpretar, a buscar exceções, a sugerir derivações. E, quando se vê, o que é básico e pacífico vira algo complicado e perigoso.

Apenas culturalmente mudamos muito, de geração para geração, de país para país. Entendendo aí cultura como este elemento imaterial, composto por várias partes, que nos cerca por todos os lados, que impregna nossa mente e com o qual nos acostumamos de tal modo que não o notamos. Por isso, para citar um exemplo simplório, canções populares dos anos 1940 não são facilmente assimiladas por jovens da década de 10 do século 21. Algumas sobrevivem porque são boas demais – e passamos a chamá-las de "clássicas". São sutis essas diferenças de geração para geração, mas elas causam sensação de estranheza quando alguém ouve algo que traz um registro diferente da­­quele da cultura pre­­­­dominante no mo­­mento em que ele cresceu.

Não que o distanciamento temporal impossibilite a fruição de uma obra "de outra época", mas afasta, a priori, a maioria. Porque cada geração tem sua subcultura. Talvez a de uma geração seja mais sofisticada que a de outras, mas não há méritos nisso. Esse tipo de cultura tem pouco a ver com escolhas e muito a ver com momento histórico. Novamente, só os clássicos sobrevivem ao mau gosto que sempre está por aí.

Falando em clássicos, alguns leitores aceitaram meu convite da semana passada e escreveram para sugerir livros para os ingleses que foram às ruas fazer protestos e acabaram provocando um grande quebra-quebra. Francisco sugere que leiam algo sobre Canudos (talvez Os Sertões, Francisco?), já que ele acredita que os jovens estão protestando contra as más condições de vida nos bairros pobres; a Edna propõe a Bíblia; Luiz sugere que leiam poesia; Sonia, qualquer título de George Orwell; e Mário Sergio lembra de outro inglês, Charles Dickens.

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