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Plateia do Teatro Guayra com professores no Congresso Nacional do Ensino em 1927 |
Plateia do Teatro Guayra com professores no Congresso Nacional do Ensino em 1927| Foto:
  • Prédio da Universidade do Paraná, em 1918
  • Escola Normal inaugurada em 1876
  • Quartel-general do Exército na Praça Carlos Gomes, em 1907. Dois anos depois, seria a sede da Escola de Artífices, hoje Universidade Tecnológica
  • Foto aérea do Colégio Paranaense no Seminário, na década de 1940
  • Liceu Rio Branco, na Rua Bispo D. José, em 1949
  • Lanche distribuído para alunas do Grupo 19 de Dezembro, na década de 1940
  • Grupo Xavier da Silva, alunos desfilando na avenida em 1943

Está acontecendo um movimento do professorado curitibano que tem ligação com a Secretaria da Educação. Movimento esse de recusa em dar aulas nas escolas da periferia da cidade, assim como na região metropolitana, sob a alegação de difícil locomoção e, principalmente, a falta de segurança do mestre nas escolas afastadas dos bairros mais centrais. A própria secretária comenta que tem professor que chega a perguntar se na escola para onde foi designado tem bandidos.

O terror se espalha por todos os quadrantes quando o aluno infanto-juvenil leva para dentro da escola o aprendizado adquirido na rua. Antes de chegar à sala de aula, muitos já tiveram contato com o traficante de plantão ao lado de fora do próprio colégio. Indivíduo que domina e corrompe com muito mais habilidade, para o lado tenebroso das drogas, do que o mestre-escola com toda a sua didática, na tentativa de formar futuros cidadãos corretos.

Vou voltar no tempo, há um pouco mais de sessenta anos, quando entrei para estudar em uma escola particular, em 1942. A dita escolinha ficava no Batel, mais precisamente no final da Rua Comendador Araújo, a duas centenas de metros de minha casa. Segundo parecia, e de fato era, a nata da criançada da região ali vinha apreender as primeiras letras. Quando principiei, havia completado 6 anos de idade. Seis meses depois, a cartilha já tinha sido deglutida, com o Ivo viu a uva e tudo mais.

Os olhos infantis não permitiam distinguir que todas aquelas crianças, cerca de trinta, estavam acomodadas (?) num infecto paiol – onde o cheiro de mofo era menos incômodo nos dias de sol – localizado no fundo do terreno. Ali estava instalada a dita escola, tendo como professora uma senhora avantajada em idade, auxiliada por uma filha que brincava de professora. No único ambiente do velho paiol eram ministrados ensinamentos que iam do primeiro ao quinto ano, passando do bê-á-bá para o idioma francês e pelas declinações do latim.

Tal escola seria um verdadeiro pagode não fora pelos métodos correcionais usados. Os castigos iam desde o aluno ficar de pé com o rosto virado para o canto da parede, ficar ajoelhado sobre grãos de milho espalhados no chão ou, então, levar um bolo na palma da mão com um ensebado taco de madeira que servia como "licença" para a piazada ir ao banheiro. Em apenas dois anos, depois de inúmeras vezes ficarmos vendo o canto embolorado da parede e ficar desgrudando os grãos de milho dos joelhos, eu já estava no terceiro ano primário. Para satisfação de meus pais, que pagavam meus estudos com sacrifício, pois os ensinamentos em tal tugúrio não eram nada baratos.

Felizmente, um dia, no ano de 1944, o meu anjo da guarda não aguentou e permitiu que eu soltasse o mais tenebroso palavrão quando fui obrigado a esticar a palma da mão para levar outro bolo em cima da rachadura produzida pelo do dia anterior. A filhinha que brincava de professora empalideceu a ponto de se ressaltar o negro buço de seu bigode, a decrépita mãe e mestra berrou: "Você está EXPULSO, fora daqui!"

Sinceramente, nunca na minha vida uma mulher me fez tanto bem. Quinze dias depois estava à frente de um grupo de professoras e de dona Donatila Caron dos Anjos, a diretora do Grupo Escolar 19 de Dezembro. As mestras examinavam o conteúdo da minha mala com os livros e cadernos e balançavam as cabeças diante do que estavam vendo. Para minha sorte, voltei para o segundo ano – pois o que aprendera de nada serviria para o futuro, faltava base.

As escolas públicas daquele tempo eram formadoras de têmperas educacionais, que iam além dos estudos à educação física e atos cívicos, com o aprendizado de hinos de louvores pátrios. O estudo primário era levado a sério, e o Paraná era governado por Manoel Ribas, um homem que promoveu a educação como a sua grande meta de governo.

Hoje, quando leio o comentário da secretária da Educação de que uma professora designada para uma das escolas da periferia perguntou se na mesma não teria bandidos, fico pensando como estaria a mesma professora se na sua infância enfrentasse a mesma dupla com quem aprendi o bê-á-bá.

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