
Girando pela cidade, o curitibano tem se deparado com muitos empecilhos para a sua circulação. sobretudo, se a locomoção se der com automóvel. Obras estão acontecendo em várias partes, principalmente na região sul de Curitiba, onde se encontram os trabalhos da dita Linha Verde.
Senti o problema ao visitar uma filha que mora em São José dos Pinhais: a Marechal Floriano está sendo literalmente revirada. Observando o trabalho que está sendo executado, transportei-me para sessenta anos passados, e até um pouco mais aonde chegam as lembranças.
Presenciei a abertura de várias ruas nas regiões do Batel, Água Verde e Portão, lá pela longínqua década de 1940, quando Curitiba estava em franca expansão, se alargando em direção aos arrabaldes. Muito dessas obras estavam sendo executadas por indicação do Plano Agache, encomendado no governo de Manoel Ribas, sendo na época do prefeito Rosaldo Mello Leitão.
Os trabalhos eram executados, com uso de picaretas, por operários cujas figuras lembravam imagens de contos e romances que abordavam a miséria humana. O corte de um pequeno morro levava semanas para ser aberto, e a terra retirada era transportada por pequenas carroças, gaiotas como eram chamadas popularmente, puxadas por esquálidos cavalos que lembravam a montaria de Don Quixote. Homens e cavalos trabalhavam, do nascer ao pôr-do-sol, horas, dias e semanas para abrir um pequeno eito de arruamento.
Não me sai da lembrança a imagem de crianças executando o trabalho de conduzir as gaiotas, até o local onde a terra retirada seria depositada. Eram piazotes de 10, 12 e no máximo 14 anos ajudando na labuta do melhoramento urbano. Conforme a duração da obra, os sofridos rocinantes aprendiam a transitar sozinhos com as gaiotas entre a escavação e o local onde era depositada a terra, onde um menino descia a carga e mandava o animal de volta. Huia!
Quando a rua se tornava mais importante, deixava de ter seu leito na terra, que com chuva virava lama e na seca espargia poeira. Eram então calçada com macadame, ou até mesmo com as pedras cujo nome era difícil de pronunciar: paralelepípedo. Quem colocava tais pedras eram os calcetiros, homens que ficavam agachados o tempo todo, ajustando pedra por pedra. Já imaginou trabalhar de croqui o dia inteiro?
Quando a gente pisa sobre uma calçada ou percorre o asfalto de uma rua, não imagina o que custou todas as obras que por ali foram executadas durante anos, do barro ao saibro, do saibro ao macadame, do macadame ao paralelepípedo e deste ao asfalto. Quanto custou de trabalho e suor, quanto custou em anos de transformações e em dinheiro pago por gerações e gerações de contribuintes. É de ficar pensando: como o progresso depende da técnica e esta somente se aperfeiçoa com o correr do tempo.
Para lembrar os que antes de nós por aqui estiveram e ajudaram com seus trabalhos, nos dando o conforto que desfrutamos hoje, a Nostalgia deste domingo mostra imagens de obras e de como eram certos lugares da velha Curitiba do meu tempo.









