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A Praça Tiradentes de 1935 não lembra quase nada a atual |
A Praça Tiradentes de 1935 não lembra quase nada a atual| Foto:
  • A então Avenida João Pessoa de 1940 pouco se parece com a Boca Maldita de hoje
  • Vitrine de loja da Rua XV, decorada em homenagem à volta da FEB em 1945
  • Fila no Açougue Garmatter para comprar carne, racionada, em 1944
  • A estátua de um dos Titãs da entrada da antiga prefeitura
  • Interior do museu de material nazista, na Dops
  • A saudosa dupla Nhô Belarmino e Nhá Gabriela. Ao fundo, o radialista Wanderley Dias

Quantas vezes algumas pessoas param nas ruas e ficam observando alguma coisa que lhes tenha chamado a atenção. Eu sou um desses caras xeretas. Se determinado detalhe ou fato me desperta a curiosidade trato logo de ir fotografando. Pode ser que nem use a imagem gravada, entretanto ela fica arquivada.

No meu caminho para o centro da cidade, uso a Avenida Vicente Machado e, sempre que posso, evito ficar perto dos bueiros, que exalam o terrível odor das águas subterrâneas do Rio do Ivo, estagnadas nas fossas construídas para conter as enchentes e que acabaram virando depósito dos esgotos domésticos despejados naquele manancial. Infelizmente, ainda não inventaram uma câmera para registrar cheiros.

Na esquina da Vicente Machado com a Visconde de Nácar, parando no sinaleiro, observo uma das muitas inutilidades públicas feitas pelo gênio de algum arquiteto. Está ali um pilar de meia altura, com uma bandeira do Paraná gravada no cimento. O tal pilar, segundo consta, foi construído para que qualquer pedestre necessitado de um atendimento policial ficasse parado junto ao mesmo até uma viatura da justa aparecesse e cuidasse do problema do cidadão. Genial! Contudo, quem bolou o tal totem esqueceu de colocar junto um confortável banco para que o inditoso carente da lei aguardasse sentado.

Curitiba tem coisas que acabam ficando para sempre e outras que desapareceram sem deixar vestígios. Algumas com muitas saudades, outras com nenhuma. O prédio que serviu como prefeitura e foi inaugurado em 1916, na Praça Generoso Marques, tem, ladeando sua entrada principal, duas esculturas de figuras mitológicas de Titãs sustentando em suas costas a fachada do primeiro andar para cima. A sabedoria popular dizia que elas representam o povo arqueado sob o peso dos impostos.

No final dos anos trinta ninguém obedecia a filas. Nos coletivos, nos cinemas, ou em qualquer lugar em que muitos necessitavam entrar, era um empurra-empurra danado. O costume veio do Rio Grande do Sul: para o cidadão entrar em qualquer lugar, tinha de entrar na bicha (caro leitor, não confunda esse termo com o usado para designar trêfegos moiçolos). As bichas de Porto Alegre nada mais eram do que filas – aquelas chamadas de indianas, as pessoas comportadamente andando umas atrás das outras. Hoje, a única fila que se destaca é a para comprar sorvetes, ali na Boca Maldita, na qual vez por outra entra alguma bichinha.

Antigamente, as casas comerciais – principalmente as lojas chiques da Rua XV – só tinham magazines esmerados, cujas vitrines eram decoradas com motivos cívicos, e mesmo religiosos, que aconteciam na cidade. Naquele tempo, a família saía de casa para ir ao cinema e aproveitava para dar um passeio na Rua XV, para ver as vitrines, que, além de ofereceram suas mercadorias sem poluir o visual, ainda serviam para apurar a cultura dos curiosos.

Hoje, Curitiba está cheia de museus e casas de cultura, quando no passado o único museu que existia era o Paranaense, que, diga-se de passagem, era uma visita obrigatória, principalmente aos domingos. Existiu aqui um museu criado em 1944, com material de propaganda nazista arrecadado pela Delegacia de Ordem Política e Social após o Brasil ter declarado guerra ao Eixo. Infelizmente, esse material foi destruído e, se existisse, bem poderia fazer parte do acervo da Casa do Expedicionário, mostrando aos pósteros contra o que os nossos soldados foram lutar, com muitos deles não voltando.

Uma das grandes diversões de antigamente eram os programas de rádio. Principalmente os de auditórios. As duas grandes emissoras de Curitiba, que eram vizinhas na Rua Barão do Rio Branco, disputavam o público com suas diversões. Conforme a atração, a rua ficava abarrotada de fãs que pretendiam ver seus ídolos. Quando se fala na era do rádio em Curitiba, é obrigação citar a mais famosa dupla de cantores e humoristas que aqui viveram: Nhô Belarmino e Nhá Gabriela.

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