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"Você tem ideia, meu filho, de quantas repúblicas formam a Rússia?", pergunta a nonna entre um gole de café e outro. Está preenchendo um passatempo de almanaque de farmácia e, de repente, precisa com urgência da informação. "Sei lá. Uma. Ela mesma", resmungo, mais interessado na partida de vôlei de praia feminino que passa na tevê. "Ô, jaguara! Vai lá e pesquisa para mim", determina. E eu, que sou louco por seu afeto e pelo cuque de banana que só ela saber fazer, troco as areias de Copacabana pelas estepes computacionais.

A Rússia – confirmo minha absoluta ignorância em geografia eslava – é formada por 85 unidades federativas, das quais 21 (22, se o mapa incluir a Crimeia) são repúblicas autônomas. Países cheios de história, de invernos siberianos e primaveras risonhas, sobre os quais o curitibano médio jamais ouviu falar.

Eu, por exemplo, poria na conta da imaginação de Rudyard Kipling um país cujo nome fosse Bascortostão. Pois ele não só existe como é a maior república autônoma da Rússia, com uma população de 4 milhões de habitantes e uma capital cujo interjetivo nome é Ufa. E o que dizer de Inguchétia, Cacássia, Tuva, Mordóvia, Udmúrtia e Tartaristão? E da Carélia? Nomes dignos das representações que deles podemos fazer: para mim, evocam samovares, muezins, leite de égua e cheiro de incenso.

Seus brasões nacionais resgatam memórias guerreiras de séculos de embates entre árias, citas, hunos, tártaros, mongóis e russos. Recuperam valores totêmicos. O da pequena república de Mari-El (capital: Iochkar-Ola), por exemplo, traz um urso vermelho monstruoso com a língua de fora, portando um escudo azul e um artefato que combina uma cruz com uma espada de dimensões colossais. O de Tuva, um cavaleiro mongol disparando pela planície;o do Tartaristão, uma espécie de leopardo alado; o do Altai, um hipogrifo.

Como bom romântico, imagino como seria estar lá. Do outro lado, quem sabe, a babushka de alguém mandou o neto – reflexo eslavo de R. W. Apolloni – descobrir o que é "Paraná" ou que raio de árvore é aquela no brasão de uma certa Curitiba.

De volta à cozinha, procuro a nonna para dar a resposta. E ela, que há muito já a descobrira em seu próprio smartphone, não dá a menor pelota. No momento, aliás, está assistindo a uma partida de vôlei de praia masculino na tevê e não quer muita conversa.

P.S.: Um texto sobre as repúblicas autônomas russas não poderia deixar de citar a Chechênia, que em 1991 se declarou independente. O episódio deu início a duas guerras, em 1994 e 1999, e a atentados terroristas que mataram pelo menos 500 pessoas. Um sinal veemente das tensões, inclusive religiosas, que permeiam as relações entre Moscou e os países que formam a Federação Russa.

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