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Uma ideia na cabeça e uma câmera, também. Assim é a rotina de Arlindo Pereira, de 26 anos, pelas ruas e ciclovias do Rio de Janeiro. Todos os dias, o programador sobe e desce de bicicleta as ladeiras de Santa Teresa, onde mora, com uma microcâmera acoplada ao capacete.

“Acho interessante filmar as bizarrices que acontecem no trânsito. Já vi desde pessoas furando o sinal e quase me atropelando até, eventualmente, motociclistas de órgãos públicos trafegando em ciclovias - afirma o programador.”

Desde que sofreu um incidente em Irajá, há 3 anos, Arlindo teve a ideia de colocar a câmera na cabeça para filmar os trajetos e registrar os abusos que acontecem no trânsito com os ciclistas.

“Estava com uns amigos em Irajá, e prestávamos homenagem a um ciclista que havia morrido em um acidente de trânsito. Quando estávamos voltando, um motorista quis ultrapassar a gente numa rua estreita. Ele jogou o carro em cima. Então, fui atrás dele, e quando paramos no sinal, eu perguntei o motivo daquela agressividade. Ele jogou o carro na minha direção, me atropelou e danificou minha bicicleta. O pior de tudo é que ele foi embora, como se nada tivesse acontecido”, relembra.

O canal na internet veio depois de alguns registros da câmera, acoplada ao capacete.

“Filmo todos os trajetos e, quando vi os vídeos que já tinha acumulado, pensei que deveria fazer algo com aquele material. Daí surgiu o canal na internet, que dei o nome de “Motoristas Cariocas”. Eu posto os vídeos sem ocultar as placas. Se algum dia isso me render algum processo, paciência. Acho que estou no meu direito”, reforça Arlindo.

De acordo com o Tenente Coronel Milton Corrêa da Costa, as infrações registradas por civis com câmeras, podem ter, sim, valor legal, com finalidade de multa, desde que o civil faça um registro detalhado de onde e quando ocorreu a suposta infração. Essa declaração pode ser encaminhada a um agente de trânsito, que vai julgar se a infração tem ou não procedência e tomar, assim, as medidas cabíveis.

Arlindo acredita ser importante fazer o registro, apesar de não ter valor legal imediato para a multa. Só assim, avalia, é possível promover a mudança de comportamento.

“Há cerca de quatro anos, eu deixava a bicicleta estacionada no trabalho, amarrada junto a um poste. Um belo dia, por coincidência no Dia Mundial sem Carro, aparece um exército da Comlurb e da Guarda Municipal. Eles estavam recolhendo as bicicletas estacionadas em locais que não fossem bicicletários. Meu porteiro correu para me avisar. Filmei, discretamente, meu diálogo com um agente da prefeitura. Ele dizia que eu não poderia prender a bicicleta no poste, e eu questionei onde deveria prendê-la, já que não havia bicicletário próximo. Postei o vídeo na internet, antes mesmo do meu canal. Isso gerou toda uma celeuma que culminou na elaboração de uma lei municipal em favor dos ciclistas”, relembra.

Após o episódio, ainda em 2011, a prefeitura do Rio sancionou o decreto-lei 34481. Na falta de bicicletários ou no caso de eles estarem totalmente ocupados, passou a ser permitido estacionar as bicicletas em outros locais, como postes, desde que não seja em árvores ou atrapalhem o trânsito de outros veículos e de pedestres.

“A minha expectativa é tentar usar o vídeo como uma função social. De uns anos pra cá, a bicicleta está muito mais difundida, seja por estilo de vida, seja por necessidade e praticidade de locomoção. Com essas obras da cidade, que são necessárias e vão trazer um impacto positivo, o trânsito está momentaneamente pior. É como dizem: “Não se faz um omelete sem quebrar ovos”, e os ovos estão deixando todo mundo estressado no trânsito.”

Assista ao vídeo acima, conheça um pouco mais da história de Arlindo e veja alguns de seus flagrantes.

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