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Desunião das empresas enfraquece segurança

É opinião corrente entre guias de ônibus e passageiros que antes havia mais união entre as empresas quando o principal destino era Foz do Iguaçu. As firmas trocavam informações e formavam comboios de ônibus. Hoje, a disputa por uma fatia do mercado levou muitas a reduzirem os preços e a não selecionarem os passageiros. "Quem provoca a insegurança são as próprias empresas", comentou uma guia com 19 anos de experiência e que pediu para não ter o nome revelado.

"Oferecem passagens muito baratas, a R$ 40, R$ 50. É um preço absurdo para ir até São Paulo e voltar." A empresa em que ela trabalha cobra de R$ 120 a R$ 130 e faz uma seleção rigorosa dos passageiros. "Faço um monte de perguntas, pego RG, endereço e CPF. Se quiser realmente viajar, a pessoa fornece. Se não quiser, diz que volta depois e não aparece mais."

Delita Ripka, proprietária de uma empresa de ônibus que contratou um serviço de escolta armada, confirma que na época das viagens para Foz havia mais união entre os excursionistas. "As empresas formavam comboios. Quando um se perdia, os outros paravam e ficavam esperando", recorda. "Agora, que vamos para São Paulo, acabou. Quem pode mais chora menos."

Para Delita, as empresas que cobram valores muito baratos não oferecem segurança. Por viagem, ela chega a investir até R$ 900 para bancar a escolta. "Nossa passagem custa R$ 120, tem empresa que cobra entre R$ 50 e R$ 60 e fretava ônibus convencionais", afirma.

O assalto a um ônibus de excursão de Curitiba que ia para São Paulo pela BR-116 e que deixou duas pessoas mortas, no dia 15 de agosto, pode ser um indício de que as quadrilhas especializadas em roubar sacoleiros estão mudando de rota. Se antes os ladrões visavam os ônibus que seguiam para Foz do Iguaçu pela BR-277, o mais novo alvo são os veículos que tomam o rumo de São Paulo pela BR-116.

A restrição às compras no Paraguai e o aumento da fiscalização na fronteira com o país vizinho fizeram com que um grande número de sacoleiros decidisse buscar mercadorias na capital paulista. "Depois que diminuiu o fluxo para o Paraguai, o pessoal começou a se voltar para São Paulo. O alvo está começando a ser esse", opina Delita Ripka, proprietária de uma empresa de excursão, em Curitiba.

Preocupada com assaltos, ela contratou uma firma de segurança que faz a escolta dos ônibus na BR-116. A medida deu resultado: desde então, nenhum veículo da empresa foi abordado. "Sabemos de vários casos que aconteceram. Tem que se cercar de tudo", comenta.

Uma medida importante, principalmente depois que o guia Valdir Tomas Faria, 37 anos, e o passageiro Willian Thomas Castilho dos Santos, 23 anos, foram mortos a tiros no roubo ao ônibus de uma outra empresa, no último dia 15. Três ladrões encapuzados se aproveitaram de uma parada para embarque de passageiros no Bairro Alto, na capital, para invadir o veículo por volta das 21h15 e praticar o assalto com extrema violência. Tanto Valdir quanto William foram fuzilados à queima-roupa.

Oficialmente, segundo a Polícia Rodoviária Federal, somente dois assaltos foram registrados neste ano no trecho paranaense da BR-116. Mas de acordo com relatos de quem trabalha no ramo, os assaltos a ônibus sempre foram comuns, mas nunca tiveram muita divulgação. "Não é de hoje que isso acontece, tanto para Foz quanto para São Paulo", afirma o motorista e guia Cléverson Barrionuevo, 28 anos. De acordo com ele, o momento de maior apreensão é na saída de Curitiba. "Na ida é mais perigoso, porque o pessoal está com dinheiro", diz.

A falta de segurança levou a empresa (que é da mãe de Cléverson) a vender dois ônibus e a optar por trabalhar somente com vans e pessoas indicadas. "Pegar passageiros no escuro não dá. Mas já ouvimos falar de colegas que foram assaltados em vans. Mesmo com um carro menor, só paramos quando a polícia pede ou em locais que já conhecemos", revela.

Segundo Barrionuevo, há relatos de assaltantes que se disfarçam de policiais para parar os veículos. "Acontece muito de o bandido usar roupa da polícia e assaltar. É mais fácil na madrugada, depois das 22 horas, mas o pessoal não escolhe muito o horário."

Abordagem

Outro motorista, que pediu para não ser identificado, conta que sofreu um assalto há cerca de um mês. "Abordaram com dois carros. Eles chegam do lado do motorista, mostram a arma e já dão voz de assalto. Não tem o que fazer", afirma. "Estão sempre em três, um fica na cabine com o motorista e os outros dois assaltam os passageiros." O motorista acha que a situação da BR-116 está parecida com a da BR-277 há algum tempo. "Está ficando igual. E o pior é que não podemos andar armados, somos assaltados e temos de ficar com a boca fechada."

Uma passageira com 15 anos de estrada, e que também solicitou o anonimato, já conhece até os pontos mais críticos da BR-116. "Na Serra do Azeite tem muito buraco, é um alvo fácil para alguém mal intencionado, porque o ônibus vai devagar. Tem gente que para na frente do Hospital Vita, não é um lugar seguro", revela. Segundo ela, a grande maioria dos problemas está antes da divisa com São Paulo. "Acho que uns 95% dos problemas estão no Paraná, quando passamos a divisa conseguimos até encostar no banco e dormir um pouco."

Já Delita aponta ainda a região da Vila Zumbi, em Colombo, na Grande Curitiba, como um ponto crítico. "Ali é bastante complicado. Tem regiões desertas e escuras. E ainda colocaram uma lombada, que obriga o motorista a parar."

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