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Linha do ligeirinho que liga Colombo a Curitiba é uma das que foi encurtada pela Comec. | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
Linha do ligeirinho que liga Colombo a Curitiba é uma das que foi encurtada pela Comec.| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

A Rede Integrada de Transporte (RIT) de Curitiba e região metropolitana não acabou, como temiam usuários e especialistas. No entanto, ela não será mais a mesma, principalmente após as mudanças feitas pelo governo do Paraná na forma de pagamento e nos itinerários de algumas linhas. Essas alterações, segundo o estado, irão racionalizar a rede. Mas elas só foram postas em prática após o fim do convênio que garantia a integração financeira e permitia a gestão da Urbs para além da capital.

A galinha dos ovos de ouro

O passageiro de Araucária que vem a Curitiba e precisa de alimentador para chegar ao ponto de embarque da RIT paga R$ 5,80 para vir à capital! São R$ 2,50 da linha urbana e mais R$ 3,30 na metropolitana. Em São Paulo, com R$ 5,45, o usuário consegue embarcar em até quatro linhas diferentes por três horas ou, em até duas horas, passar pela catraca de três linhas de ônibus e fazer a integração com o trem ou metrô.

Apesar da discrepância, há explicação técnica para a mudança promovida em Araucária. Até janeiro, as tarifas dos passageiros daquele município que vinham a Curitiba e embarcavam antes em linhas urbanas ficavam totalmente com a prefeitura local.

O sistema urbano de Araucária transporta diariamente 29 mil passageiros pagantes – o que garante uma arrecadação de cerca de R$ 70 mil por dia – R$ 25 milhões no ano. São José dos Pinhais também tem linhas urbanas. Ao todo, são 60 linhas que transportam, em média, 65.698 passageiros pagantes por dia útil. No ano, são R$ 51 milhões.

Pode parecer pouco perto da arrecadação da RIT, que ultrapassa os R$ 3 milhões por dia, mas são quantias que as gestões daqueles municípios dificilmente abririam mão em favor da integração tarifária metropolitana. Campo Largo fecha a trinca dos municípios da RIT que têm rede urbana própria. Em comum, essas cidades mantêm independência de Curitiba maior do que seus vizinhos. Isso quer dizer que mais pessoas se deslocam apenas internamente. Todos os demais municípios da RIT têm alimentadores da própria rede, ou seja, o dinheiro entra no sistema metropolitano. A readequação de Araucária pode parecer justa para o sistema, mas foi péssima para o usuário. Chega-se à conclusão de que a Comec resolveu um problema criando outro ainda maior para a população.

Na prática, até o momento, a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) encurtou linhas – como as dos ligeirinhos que ligam Curitiba a Campo Largo, Araucária, Colombo e São José dos Pinhais (veja a lista completa no infográfico). Segundo o governo estadual, essas linhas tinham trechos sobrepostos. Agora, esses ligeirinhos param em terminais de Curitiba mais próximos dos seus municípios de origem. De lá, o passageiro embarca em outras linhas urbanas para vir, por exemplo, para o centro da capital.

As mudanças chegaram a gerar protestos dos usuários, mas são defendidas, inclusive, por quem ajudou a criar a RIT. Antes de se juntar ao quadro de técnicos da Comec, Euclides Rovani trabalhou na prefeitura entre 1974 e 2003 – período em que atuou no Ippuc e na Urbs ajudando o então prefeito Jaime Lerner a planejar e operacionalizar a rede integrada.

“Se eu ainda estivesse lá [na prefeitura], faria a mais coisa. O custo atual do transporte metropolitano é de R$ 4,20. E não podemos cobrar isso. A linha São José/Curitiba, por exemplo, é caríssima porque os ônibus trafegam em vias laterais e paralelas. E a velocidade das linhas fora das canaletas vai diminuir cada vez mais”, defende Rovani.

Na Comec desde janeiro, Rovani usa os ligeirinhos para defender sua tese. “O primeiro ligeirinho, Boqueirão/Centro Cívico, começou a circular em abril de 1991. Naquela época, ele trafegava com uma velocidade média de 32 km/h. Hoje, essa média é de 15 km/h”, exemplifica.

No terminal do Cabral, tem um biarticulado com intervalo de três minutos que circula em vias segregadas. Para que criar o ligeirinho Cabral/CIC, disputando espaço [com os carros] nas vias laterais?

Euclides Rovani técnico da Comec

Créditos

As mudanças, no entanto, não se limitaram às linhas. Passageiros que embarcam nos municípios vizinhos e que compraram seus créditos após 6 de fevereiro não poderão mais pagar com o cartão da Urbs (veja infográfico) a partir de agosto. Os novos validadores das linhas metropolitanas integradas serão implantados pela Metrocard, empresa do grupo que já opera o setor. Com isso, 100% do valor arrecadado no sistema irá diretamente para as viações. Nas linhas urbanas de Curitiba, 55% da arrecadação passam antes por um fundo público administrado pela Urbs. Os 45% arrecadados em dinheiro entram diretamente nas contas das viações.

A integração de alimentadores de Araucária com o sistema metropolitano integrado também mudou. Antes, o passageiro pagava uma tarifa no ônibus urbano e embarcava em um da RIT sem pagar novamente. Agora, paga-se duas tarifas para fazer essa integração. Segundo a Comec, a medida foi adotada porque o valor das tarifas Araucária-Curitiba era arrecadado exclusivamente pela empresa municipal. Campo Largo e a maioria das linhas de São José dos Pinhais também têm sistemas semelhantes.

100%

do valor arrecadado dos passageiros nas linhas metropolitanas irá diretamente para as contas das empresas do transporte coletivo.

SEM ACORDO

A desintegração financeira da RIT ocorreu porque estado e prefeitura não chegaram a um acordo sobre o subsídio que cobre a diferença entre custo operacional e tarifa do passageiro. O município pediu R$ 7 milhões mensais. Mas o governo afirma que manterá o sistema com R$ 3 milhões em subsídio, e que essa quantia será reduzida em até 10% até o próximo mês de maio.

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