• Carregando...

Às 11h45 da última terça-feira, uma hora e meia após ter chegado no Colégio Estadual Hildebrando de Araújo, em Curitiba, o técnico em eletrônica Gerson Aparecido Vale, de 38 anos, calculava quanto tempo ainda levaria para conseguir uma declaração para transferência de escola. "Saí do trabalho para voltar dentro de uma hora, mas acho que ainda vou ficar um bom tempo por aqui", disse ele, décimo da fila de cerca de 30 pessoas.

A demora tem justificativa: desde o início do mês, apenas uma funcionária está fazendo o serviço que no ano passado era feito por cinco pessoas. Não é um caso isolado. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores de Educação do Paraná (APP-Sindicato), a maioria das escolas da rede estadual enfrenta dificuldades por falta de funcionários.

Em tempos de preparação para o início do ano letivo, no dia 9 de fevereiro, as escolas da rede estadual passam pelos últimos reparos na estrutura física (leia texto na página 4), além da chegada de materiais e o corre-corre de pais e estudantes que precisam de algum tipo de documentação. Em Curitiba, a renovação do Passe Escolar exige apresentação de comprovante de matrícula. Justamente nessa época, faltam nos colégios oito mil funcionários que foram demitidos pelo governo no final de dezembro para serem substituídos por concursados. "O concurso é bom, porque dá mais segurança para a escola e para os funcionários, mas a maneira como foi feito o repasse do serviço – demitindo todos primeiro para só depois de um mês convocar os novos – é muito impactante. Deveria ter sido feito gradativamente", avalia o diretor do Colégio Hildebrando de Araújo, Osvaldo Alves de Araújo.

A Secretaria de Estado da Educação (Seed) promete solucionar o problema de acúmulo de serviço na próxima semana, com a posse de 8.043 funcionários aprovados em concurso público do ano passado e nomeados ontem pelo governador Roberto Requião. A APP-Sindicato, no entanto, teme que boa parte dos convocados só comece a trabalhar depois do início do ano letivo. "Esse ano nossa grande dor de cabeça é a falta de funcionários. O prazo legal para essas pessoas se apresentarem é de um mês após a nomeação. Nosso receio é de que as aulas comecem com poucos funcionários nas escolas, porque a situação que já está complicada vai piorar muito", afirma o presidente da entidade, José Lemos.

Na avaliação da Seed, isso não deve acontecer, porque o tempo de serviço dos convocados só começa a contar quando eles se apresentarem na escola. "A orientação é de que eles assumam o quanto antes. De qualquer forma, como garantia, a secretaria vai fazer contratação de funcionários temporários para atender necessidades emergenciais", informa a chefe do Departamento de Infra-estrutura da Seed, Ana Lúcia Albuquerque Schulhan, que admite que os funcionários estão fazendo falta num momento crucial.

Trabalho gratuito

Como 3.087 funcionários demitidos foram aprovados no concurso, não são raros casos de quem está aguardando a convocação trabalhando de graça. Ivonete de Campos, aprovada para trabalhar em Curitiba, está prestando serviços voluntários na Escola Estadual Paulo Freire, em Pinhais, na região metropolitana, onde trabalhou por dois anos. "A gente ajuda, porque é uma época de bastante trabalho. Aqui na escola, eu e mais uma antiga funcionária estamos fazendo o serviço que antes era feito por sete pessoas", diz ela.

Para a chefe de infra-estrutura da Seed, a mobilização de voluntários demonstra como a escola é uma instituição forte. "Num momento como este a gente vê que a escola tem a capacidade de se organizar de forma que consegue executar os serviços, independentemente das dificuldades que tem. Obviamente que não é isso que a secretaria quer, mas por outro lado mostra que a escola tem uma estrutura forte e que aquela pessoa que já trabalhou nela, mesmo sem salário, volta para prestar serviço voluntário", afirma Ana Lúcia.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]