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Espera sem fim

Condenada à dor da dúvida

Todos os dias, quando se levanta, uma mãe faz inconscientemente sempre a mesma pergunta: onde está Davi? O filho desapareceu há dois meses

Isabel Meira, 43 anos, no quarto do filho Davi, que sumiu no dia 9 de novembro do ano passado: queixas sobre a falta de empenho da polícia | Fotos: Priscila Forone/ Gazeta do Povo
Isabel Meira, 43 anos, no quarto do filho Davi, que sumiu no dia 9 de novembro do ano passado: queixas sobre a falta de empenho da polícia (Foto: Fotos: Priscila Forone/ Gazeta do Povo)
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A atendente de agendamento Isabel Cristina Meira, de 43 anos, vive uma rotina angustiante desde que o filho Davi Meira Neto, de 18 anos, desapareceu após ir a uma festa no bairro Barreirinha, em Curitiba, no dia 9 de novembro. Ao andar pelas ruas da cidade e se deparar com um mendigo, carrinheiro ou usuário de drogas, ela olha atentamente para ver se reconhece o filho ausente. Ao acordar, pergunta-se se o filho tem cama. Ao comer, se ele tem comida. Ao sorrir, se ele chora.A luta de Isabel, igual à de qualquer mãe nesta situação, tem um agravante: o filho já é adulto e usuário de drogas, e ela sente que o poder público e as pessoas em geral não se sensibilizam com o seu fardo. O Serviço de Investigação da Criança Desaparecida (Sicride), elogiado país afora, não se responsabiliza pelo caso, por só atender casos de desaparecidos com até 12 anos, embora Davi tenha sumido quando ainda tinha 17 anos e a Constituição diga que toda pessoa com menos de 18 anos deve ter prioridade absoluta.

"Eu sinto que a polícia quer mais é descobrir que ele morreu. Eu jamais recebi uma ligação da DVC [Delegacia de Vigilância e Capturas, responsável por averiguar o desaparecimento de maiores de 12 anos]. Não importa que use drogas, ele é meu filho", desabafa. Ela, inclusive, diz que já aceita a hipótese de que Davi esteja morto. "Dói menos".

Mesmo após quase dois meses do desaparecimento, a delegacia não tem nenhuma pista sobre o caso. A mãe diz que o filho – torcedor do Coritiba – tinha envolvimento com torcidas organizadas, mas nenhum colega de facção foi ouvido, de acordo com o próprio delegado Marcelo Lemos. Logo após sair de casa pela última vez, o rapaz ligou para a mãe. Entretanto a polícia não se interessou em pedir a quebra de sigilo telefônico para saber de onde vinha a ligação. Além disso, nenhum amigo da vítima prestou depoimento.

O delegado alega que a mãe só registrou o sumiço no dia 21 de novembro – 12 dias depois – e que o fato de Davi ser usuário de drogas e perambular pela cidade dificulta a sua localização. Lemos afirma que está averiguando outras informações e que só pode pedir a quebra de sigilo telefônico caso haja indícios de que Davi cometeu um crime. A mãe, que não cometeu nenhum, é a única já condenada, ao menos, à dor da dúvida.

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O que mais poderia ser feito para aprimorar o trabalho da polícia na investigação de pessoas desaparecidas?

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