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Uso de jaleco na rua aumenta risco de infecções hospitalares | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Uso de jaleco na rua aumenta risco de infecções hospitalares| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

NORMA NO PARANÁ

Lei proíbe uniforme nas ruas

Carolina Gabardo Belo

Uma lei estadual proíbe o uso de jalecos, aventais e outros equipamentos de proteção individual fora de hospitais e enfermarias. A norma, assinada pelo governador Orlando Pessuti em 12 de maio, está em vigor em todo o Paraná desde o final de junho. O descumprimento da lei prevê multa de R$ 193,72. A fiscalização está sob a responsabilidade da Vigilância Sanitária de cada município.

"Independente da legislação, esta prática deve ser banida. De maneira alguma o profissional da saúde pode sair do ambiente de trabalho com jaleco ou nenhum outro equipamento, como estetoscópios e termômetros", afirma a responsável pela área de fiscalização de produtos, serviços e estabelecimentos relacionados à saúde da Secretaria de Saúde de Curitiba, Lucinéia Lino. Ela ressalta que os cuidados com os equipamentos fazem parte das boas práticas de controle de infecções. Em Curitiba, a proibição também está prevista na Lei Municipal nº 9.000.

O jaleco médico indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como equipamento de proteção individual para os profissionais do setor pode ser fonte de contaminação. É o que indica pesquisa realizada por duas alunas da Pontifícia Universidade Católica (PUCSP), câmpus de Sorocaba (SP), divulgada ontem. Em 95% das amostras analisadas foi constatada a presença de contaminação.Entre os micro-organismos identificados nos jalecos está o Staphilococcus aureus, bactéria considerada como um dos principais agentes de infecção hospitalar. A pesquisa foi feita pelas alunas de medicina Fernanda Dias e Débora Jukemura, sob orientação da professora Maria Elisa Zuliani Maluf.

A proposta surgiu após a constatação de que alunos e residentes do hospital-escola do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, da rede estadual de saúde, saíam para o almoço em bares e restaurantes sem tirar o jaleco. O objetivo foi comparar a microbiota (conjunto de micro-organismos) existente nos jalecos, sobretudo na região do punho e na própria pele dessas pessoas, com a daqueles que não usam jalecos. Foram avaliados 96 estudantes de medicina, distribuídos nos seis anos da graduação, que atuam na enfermaria de clínica médica do hospital. A metade usava jalecos (de mangas longas) e a outra metade não.

Os resultados da pesquisa indicam que a contaminação está presente em 95,83% das amostras. "Essa elevada taxa de contaminação pode estar relacionada ao contato direto com os pacientes, aliada ao fato de os micro-o rganismos poderem permanecer entre 10 e 98 dias em tecidos encontrados em hospitais, como algodão e poliéster", explicou Fernanda.

O estudo mostrou que os jalecos dos estudantes de medicina estão geralmente contaminados, principalmente nas áreas de contato frequente, como mangas e bolsos. A OMS e outras instituições de referência em biossegurança recomendam o uso de jalecos como uma barreira de proteção contra a transmissão de microrganismos.

A pele da região do punho, conforme apontou o estudo, estava contaminada em 97,91% dos usuários de jaleco. Nos não usuários, a contaminação era de 93,75%. "Evidencia-se que a contaminação nos usuários de jaleco não difere significativamente daqueles que não fazem seu uso, indicando que sua função como proteção pode ser questionada", disse a professora Maria Elisa.

As alunas disseram que o estudo também mostrou que a prática de lavar as mãos, em ambos os grupos, não está adequada. "Essa prática deve ser estimulada antes e depois do contato com os pacientes, pois consiste numa conduta simples e importante na prevenção de infecções hospitalares", disse Débora. Para ela, a falta de higiene das mãos aumenta a contaminação dos jalecos. Na opinião da orientadora, o jaleco pode representar um possível veículo de transmissão de microrganismos associado à infecção hospitalar se seu uso não for aliado a cuidados. A PUCSP pretende aprofundar o estudo para encaminhá-lo à OMS.

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